São Paulo, segunda-feira, 27 de janeiro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

A recandidatura de FHC

ÉLCIO ÁLVARES

Muito se tem falado sobre a emenda da reeleição. Que o tema virou prioridade nacional. Que estaria atropelando outros itens fundamentais da agenda política do país. Que o Congresso só discute essa tese. Que o governo estaria paralisado em função do debate. Que o presidente Fernando Henrique só pensa em reeleição.
Mas outra questão precisa ser esclarecida. Reeleição não é nomeação, não significa prorrogação de mandato. Apenas está se propondo que o atual presidente da República e todos os mandatários que o sucederem tenham o direito de concorrer a um mandato consecutivo.
Se o presidente vai aceitar concorrer novamente a um segundo mandato, só ele decidirá, porque depende da sua vontade pessoal. E isso nem ele pode decidir agora. Somente em 1998.
Se optar por concorrer, ótimo para o país, porque quem governa com competência merece continuar. Os números da economia brasileira mostram que o país está no rumo certo. Mas, para manter essa margem de crescimento, é preciso que os programas implantados tenham continuidade.
Uma das piores mazelas de nossa política é a falta de continuidade, o desprezo que os sucessores têm pela administração dos antecessores. A emenda da reeleição vem permitir que o eleitor brasileiro continue à frente do processo político. Ele é quem vai optar pela continuidade ou não. De maneira livre e soberana. E já sabemos que a maioria dos brasileiros apóia a reeleição e acha que o presidente Fernando Henrique Cardoso deve ter o direito de disputar um segundo mandato.
No Congresso Nacional, a tese da reeleição tem o apoio da maioria dos congressistas. Por que, então, a opção de plebiscito? O povo será consultado na hora de votar, no dia da eleição, no primeiro e no segundo turno, se ocorrer.
Se não reelegerem o governo FHC, é porque não o aprovaram. Mas, aprovada a emenda da reeleição, teríamos mais crescimento econômico e a confiança de investidores aumentaria. Quatro anos é um período de tempo muito curto para operar as reformas que o país espera há décadas.
Com o princípio da reeleição instituído, estaríamos iniciando um novo ciclo de prosperidade e desenvolvimento. O Plano Real tem, hoje, a aprovação de 78% dos brasileiros. O governo está dando certo há mais de dois anos. Até bem pouco tempo atrás, era quase impossível prever que viveríamos sem inflação.
A reeleição está ligada à necessidade de manutenção da estabilização econômica do país. Está ligada à necessidade de concluir as reformas estruturais do Estado. É preciso completar o programa de privatizações. Vencer a batalha da reforma agrária. E tudo isso não se faz em quatro anos, porque são muitos os obstáculos a vencer.
Dizer que haveria risco de utilização da estrutura administrativa na campanha eleitoral é uma tentativa de fugir ao debate. Em todo o mundo moderno, da Europa aos EUA, do Oriente à Argentina, se convive com a possibilidade de o governante ser reeleito. Basta criar uma comissão federal de fiscalização.
Essa não é uma questão apenas de interesse pessoal dos atuais detentores de mandatos. Interessa a toda a população. E não se trata de defender reeleição só para beneficiar o atual presidente. A impressionante quantidade de obras inacabadas existentes em quase todos os Estados é um monumento ao desperdício do dinheiro público. Tem como uma das principais causas a descontinuidade administrativa.
Com o direito de se reeleger, a qualidade das administrações melhoraria. Precisamos acreditar na capacidade do povo de reconhecer méritos e defeitos dos governantes. Vivemos um novo tempo. O resultado das últimas eleições mostrou a clara opção do eleitorado pela tese. As administrações municipais que tinham o reconhecimento popular ganharam continuidade. O eleitor brasileiro está à frente do processo político. A Fernando Henrique deve ser dado o direito a uma recandidatura.
Quem teme a reeleição não está colocando em primeiro lugar os interesses da nação. O princípio da reeleição enseja ao governante e à sociedade a oportunidade de um julgamento direto e verdadeiro. Se reelege o governante, a sociedade está aprovando sua administração. É um instrumento que aperfeiçoa o processo, permitindo à sociedade manifestar sua soberana vontade.

Texto Anterior: O transplante e a vacina obrigatória
Próximo Texto: Reeleição com plebiscito
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.