São Paulo, quarta-feira, 29 de janeiro de 1997
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Coisas de mulher

MARIA ERCILIA
DO UNIVERSO ONLINE

O Yahoo inaugurou na última sexta um novo guia da Web, dirigido exclusivamente a mulheres, o Beatrice's Web (www.bguide.com).
Por dever de ofício, fui conferir. Mas todo o marketing do negócio, com uma bonequinha chamada Beatrice cheia de dicas e respostas, me incomodou.
Por que será que todo produto endereçado a mulheres tem que receber uma cobertura xaroposa e açucarada? Beatrice, a "recepcionista" do guia, saracoteia pra lá e pra cá, dá tchauzinho e ainda diz que dá duro procurando novidades para que as moças possam descansar e secar as unhas.
O guia em si acaba não sendo tão ruim, tem alguns endereços interessantes -mas é mínimo, mal dá para chamar de guia. Três ou quatro dicas por assunto e só. Irregular também.
Alguns endereços são cuidadosamente comentados, em oito ou dez linhas. Outros não merecem duas linhas. Não tem nenhum link sobre sexo, que pelo jeito não é considerado coisa de mulher.
Enfim, acaba dando impressão de vestiário das meninas, de coisa meio segregada, meio forçada. Talvez seja uma maneira de dar uma domesticada na Internet, já que boa parte da Web às vezes lembra mais a parede do borracheiro -todos aqueles GIFs mal escaneados e poses contorcionistas.
Mas tudo isso é desnecessário. Há menos mulheres usando a Internet porque há menos mulheres com acesso a computadores -não porque faltam cartuns sorridentes com quem elas possam se identificar.
O parceiro do Yahoo nesse embrião de guia é o Women's Wire (www.women.com), serviço para mulheres que existe há anos -deve ser quase tão antigo quanto o Yahoo.
Já passou por muitas confusões e polêmicas -a "Wired" o processou por infração de copyright em 94; há pouco tempo, sofreu uma reforma e se voltou mais para moda e consumo, o que despertou protestos de muitas usuárias.
São sinais de que mulher na Web passou de minoria absoluta a mercado viável. A novidade do Beatrice's Web são os anúncios -de decoração, roupas, carros, lojas. É uma tentativa de concentrar a demografia feminina da Web numa esquina cor-de-rosa.
A verdade é que ainda não surgiu uma marca forte para mulheres na Internet, algo equivalente a revistas como "Feed" e "Word", que são pequenas, mas têm prestígio e público definido.
Em janeiro de 94 a média de mulheres na Internet era de 5% do total -quase nada! Eram tão poucas que todo mundo conhecia os pontos de encontro femininos: GeekGirl (www.geekgirl.com), mais pop, Women's Wire, concentrado em serviços, e ECHO (www.echonyc.com), entre alguns outros. O Echo nunca foi só feminino, mas sempre concentrou muitas mulheres.
Hoje a porcentagem pulou para 31,4% (os dados são da GVU Survey, www.survey.cc.gatech.edu/, respectivamente de janeiro de 94 e outubro de 96).
Com um crescimento tão rápido, vai ser inevitável que surjam muito mais sites para mulheres. Ótimo -só que vai ter que aparecer algo mais convincente que um cartum com óculos de gatinho.

E-mail netvox@uol.com.br

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