São Paulo, quinta-feira, 30 de janeiro de 1997
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São Paulo como a cidade era

CASSIANO ELEK MACHADO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Quando Vincenzo Pastore chegou a São Paulo, ainda era possível cruzar com um rebanho de ovelhas pastando no centro da cidade.
As 63 imagens realizadas pelo fotógrafo italiano, que estão em exposição a partir de hoje no Instituto Moreira Salles, mostram que Pastore conseguia retratar moradores de São Paulo com a espontaneidade singular.
O curador da exposição, Carlos Lemos, observa que um dos maiores atrativos do conjunto de fotografias é a transparência de características do dia-a-dia.
Negros descalços, estrangeiros, mendigos, vendedores e donas de casa aparecem com extrema naturalidade em situações cotidianas.
O material é inédito. As fotografias integram um acervo de cerca de 120 imagens doadas para o Instituto Moreira Salles, no final do ano passado, pelo neto do fotógrafo, o pianista Flávio Varani.
Além das imagens de personagens urbanos e de alguns retratos de cenários da cidade, o instituto também mostra um pouco da faceta mais conhecida do fotógrafo.
Pastore, que chegou da região italiana de Puglia em 1865, se sustentava com os chamados "retratos mimosos", fotografias realizadas sob encomenda no estúdio em que se estabeleceu, no número 12 da rua da Assembléia.
"Por que Pastore obstinou-se em fotografar o povo simples e modesto nas ruas paulistanas naquele tempo, em que isso não era preocupação de ninguém?", questiona Carlos Lemos, professor de história da arquitetura da Universidade de São Paulo.
O fato é que as imagens do fotógrafo constituem, de acordo com Lemos, "um dos documentos mais importantes sobre a história da cidade no início do século".
Ao mesmo tempo que registrava os hábitos dos paulistanos, Pastore deixava transparecer, em segundo plano, flashes de características urbanísticas de São Paulo.
O espaço entre o rio, hoje um esgoto, e o córrego Anhangabaú é considerado o núcleo urbano histórico de São Paulo.
Em uma panorâmica realizada em 1911 no centro -reproduzida acima-, uma das poucas da exposição em que a paisagem é a personagem principal, fica patente o ritmo acelerado de mudanças que a cidade enfrentava nesse período.
Na última década do século passado, o número de habitantes da cidade quadruplicou. Centenas de casas foram demolidas para dar espaço a palacetes e cortiços.
Entre as imagens que o fotógrafo registrava em pesadas chapas de vidro e que sua mulher, Elvira Pastore, revelava com competência reconhecida estão residências de grandes personalidades da história da cidade. Na grande panorâmica, por exemplo, aparecem as casas de Maria Angélica Souza Queirós Aguiar, Antônio Álvares Penteado, Rafael Paes de Barros, "Dona" Veridiana e Tobias de Aguiar -todos nomes de ruas.

Exposição: São Paulo de Vincenzo Pastore
Vernissage: hoje, às 20h
Onde: Espaço Higienópolis do Instituto Moreira Salles (r. Piauí, 844, 1º andar, tel. 825-2560)
Quando: terça a sexta, das 13h às 20h. Sábado, e domingo, das 13h às 18h. Até 20 de abril
Quanto: entrada franca

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