São Paulo, sexta-feira, 31 de janeiro de 1997
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Restauração dá vida a Colyseo de Santos

ERIKA SALLUM
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Aos poucos, Santos (72 km a sudeste de São Paulo) ressuscita seu passado histórico. O teatro Colyseo, edifício do começo deste século localizado no centro da cidade, está passando por um profundo processo de restauração, que promete lhe devolver a importância adquirida em décadas passadas.
Inaugurado em junho de 1924, em meio ao progresso urbano causado pelo desenvolvimento do porto, o prédio já abrigou artistas de renome, como Villa-Lobos e Nijinski.
Por descuido de seus proprietários, do governo e do tempo, acabou se transformando em um cinema e, a partir da década de 70, enfrentou um longo e destruidor processo de decadência, até ser tombado pelo Condephaat em 89.
Camarotes, frisas e foyer deram adeus às operetas, peças e balés para se tornarem testemunhas de filmes e shows pornográficos.
Há cerca de um ano, a prefeitura deu início a um projeto de restauração do edifício, que passará a ser o maior teatro da cidade, com 1.500 lugares.
O custo da reforma será de R$ 6,6 milhões -R$ 900 mil já foram gastos nesses quatro primeiros meses de trabalho.
O governo do Estado financiou o projeto até agora. No futuro, parte dos recursos poderão ser pagos por empresas privadas e estatais e por leis de incentivo.
Se as previsões se concretizarem (leia-se, se a verba for repassada), daqui a um ano e meio as portas do Colyseo serão reabertas.
À frente da empreitada, estão os arquitetos Aguinaldo Secco Jr. e Nelson Gonçalves de Lima Jr., criadores e coordenadores do projeto de reforma do teatro.
Para realizar a obra, foi chamada a construtora Akio, responsável pela restauração do Pelourinho e do teatro Castro Alves (Salvador).
Destruição total
Restaurar é um verbo muito delicado quando se pensa no estado do Colyseo no final do ano passado.
O prédio estava bastante destruído, com morcegos, ratos, baratas, goteiras, paredes descascadas etc.
E o pior: ao ser transformado em cinema, demoliu-se o palco e por pouco o espaço não se tornou um estacionamento.
Além disso, o proprietário do terreno, diante de dificuldades financeiras, loteou partes do prédio, alugando-as a pequenos comerciantes.
O hall de entrada foi ocupado por uma farmácia, uma modesta gráfica, um armazém. O belo foyer, no segundo andar, serviu de sede de um restaurante chamado "O Pimentão Vermelho", que, por causa do sugestivo nome, pintou dessa cor as janelas e portas.
As poltronas da platéia eram, na verdade, remanescentes de outras salas de projeção de Santos.
Resumindo: revitalizar o Colyseo significa fazer bem mais que simples retoques.
Restauração e falsificação
Para enfrentar a batalha, os arquitetos partiram do pressuposto de que "restauração é diferente de falsificação".
"Não dá para falsificar uma época. Vamos restaurar o que for possível, atendendo às exigências da atualidade", explica Lima Jr.
Em relação à mobília, só as cadeiras dos camarotes serão restauradas.
Com o auxílio do cenotécnico Ismail Acunha Sole, o novo teatro será abastecido com modernos equipamentos.
Ao lado esquerdo do edifício será construído um anexo, que vai abrigar camarins e salas de ensaio.
Os arquitetos recordam, no entanto, que o Colyseo terá espaço apenas para apresentar espetáculos, não para produzi-los.
O edifício também contará com adaptações para deficientes físicos, o que representa trabalho dobrado, já que o Colyseo é repleto de desníveis.
Além de injetar tecnologia, o projeto vai eliminar a divisão social imposta pela construção. Quando o edifício foi levantado, escadas separavam a classe alta do resto do público, e só os ricos tinham acesso ao foyer.
Nos intervalos, os menos favorecidos se contentavam com o terraço, no terceiro pavimento.
Isso agora vai acabar. O novo foyer será utilizado para pequenos eventos e recepções: "Desse modo, um espetáculo menor não precisa ser apresentado no teatro", constata Secco Jr.
No terraço, será erguido um elegante restaurante, aberto não apenas aos frequentadores do Colyseo. "São formas de o teatro captar recursos para sua manutenção", completa Lima Jr.

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