São Paulo, quinta-feira, 2 de outubro de 1997
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Arquitetos fazem críticas

DA REPORTAGEM LOCAL

O arquiteto Júlio Neves não anda bem entre seus pares. A Folha ouviu seis dos principais arquitetos do país sobre as alterações feitas no Masp -a ocupação do vão livre, as intervenções na fachada e as mudanças na sala de exposições. Entre eles, só um aprova as mudanças. Leia os depoimentos:
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Oscar Niemeyer, criador de Brasília e do pavilhão da Bienal de São Paulo: "Sou contra qualquer modificação no projeto da Lina Bardi. O museu tem de respeitar o que ela deixou. É uma arquiteta muito importante. É uma sacanagem o que estão fazendo."
Carlos Bratke, criador de prédios na região da avenida Berrini, em São Paulo: "Museu tem de se renovar de tempos em tempos, se não cansa. Dirigi o Museu da Casa Brasileira e sei que é assim. O Louvre, para mim o grande paradigma de museu, é o grande exemplo. Fez uma pirâmide de vidro na entrada, vende de tudo em suas lojas e é um sucesso. Tem muita coisa no Masp com as quais não simpatizo. Mas o Júlio Neves conseguiu levar público para o Masp. O que importa é o museu ser visitado."
Paulo Mendes da Rocha, autor do projeto do Museu Brasileiro da Escultura em São Paulo: "Vou dar um conselho ao meu amigo Júlio Neves. A grande beleza do Masp é o inesperado do vazio. Aquilo que colocaram embaixo é muito ruim, muito primário, muito grosseiro. Não vejo problema em cobrir a fachada. Não é que não se possa fazer nada no prédio. Mas é preciso saber o quê. Não se faz um vão de 70 metros para ocupá-lo. O vazio é a arquitetura ali. É preciso educar as empresas para patrocinarem sem destruir".
Joaquim Guedes, autor do plano diretor de Marabá (PA): "É uma barbaridade o que fizeram no prédio. Destruíram a sala de exposições da Lina. Essa sala é tão importante quanto o Rembrandt e o Velásquez que estão lá. Colocaram paredes, transformando o Masp em um museu igual a qualquer outro. É um crime o que fizeram na fachada. Pode mexer no museu, mas com cuidado. Não pode ter espírito de trator."
Ruy Ohtake, autor do projeto do hotel Renaissance: "Não estão sabendo tirar proveito da arquitetura. Deveria haver um projeto de curadoria para as grandes exposições. Sem isso, ocorrem tumultos, o prédio vive remendado: mudam a fachada, ocupam o vão livre. A Lina não fez os cavaletes de vidro à toa. Eles foram pensados para enxergar o espaço todo de uma só vez. Não acho que os prédios têm de ser congelados. Mas é preciso entender a idéia do autor e desenvolvê-la."
João Filgueiras Lima, autor de projetos de hospitais públicos de Salvador, Belo Horizonte e Brasília: "O museu está irreconhecível. Foi concebido como um grande espaço livre e está virando um museu convencional. A arquitetura é feita de espaços vazios assim como a música é feita de pausas. Não tem sentido ocupar esses vazios."

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