São Paulo, quinta-feira, 2 de outubro de 1997
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A estratégia do Paraná

LUÍS NASSIF

A privatização dos sistemas de transportes deverá, em breve, provocar um redesenho no mapa regional brasileiro.
Primeiro Estado a assumir a incumbência da privatização das rodovias federais, o Paraná tem ambição explícita: atrair a produção agrícola do Mato Grosso do Sul e parte das exportações e importações de veículos do porto de Vitória (ES), transformando-se na porta de entrada e saída para o Mercosul.
Sem recursos para investir nessa infra-estrutura, o Estado definiu um plano de transportes intermodais e passou a buscar parcerias e concessões.
Na ponta ferroviária, licitou a operação dos 248 quilômetros da ferrovia Guarapuava-Cascavel. Operada pela Ferropar -grupo com capitais paranaenses-, a ferrovia deverá transportar de 400 mil toneladas/ano de cereais a 2,5 milhões de toneladas até o ano 2000. E deverá se integrar à antiga malha da Rede Ferroviária Federal, permitindo ligar Cascavel a Paranaguá. (Chama atenção o fato de apenas um grupo ter se habilitado à concessão.)
Esse complexo multimodal será reforçado pela privatização das rodovias federais e estaduais que compõem o chamado "anel de integração" -juntando as seis cidades-pólo do Estado.
São 2.035 quilômetros de estradas federais e estaduais que respondem por 70% do tráfego do Estado. O sistema foi dividido em seis lotes, cada qual entregue a um consórcio vencedor. Em lugar de dinheiro, o lance consistiu em oferecer manutenção também para estradas de fora do "anel de integração". Com isso, o governo estadual conseguiu tirar mais 300 quilômetros de manutenção de estradas de seu orçamento.
O investimento inicial será da ordem de R$ 200 milhões. As concessões terão prazos de 24 anos e responderão por investimentos totais da ordem de R$ 3,4 bilhões. Em média, os consórcios aplicarão R$ 150 milhões/ano nas rodovias, contra uma verba total do Departamento de Estradas de Rodagem de apenas R$ 40 milhões.
Porto do Mercosul
A terceira investida foi no porto de Paranaguá. No dia 4 de novembro decide-se a licitação para um terminal de veículos e contêineres, a serem utilizados pelas montadoras. É investimento da ordem de R$ 180 milhões.
Em anexo, haverá um pátio para receber mercadorias, fazer as montagens e agregar valor. A idéia é atrair parte das exportações e importações que passam pelo porto de Vitória (ES).
Segundo estudos da Secretaria de Transportes estadual, a Volkswagen da Argentina leva nove dias para enviar automóveis até Vitória, que, depois, serão trazidos de volta ao Centro-Sul -maior mercado consumidor. Por Paranaguá, a viagem se reduz para cinco dias. Renault, Chrysler e Audi já firmaram protocolo com o governo do Estado, comprometendo-se a utilizar o porto.
Finalmente, o governo do Estado decidiu investir em duas pontes sobre o rio Paraná, permitindo interligar o Estado com Mato Grosso do Sul, facilitando assim o escoamento da safra pelo porto de Paranaguá.
O Estado está com o orçamento apertado e procedendo a liberalidades fiscais extraordinárias para atrair montadoras. Mas com imaginação e parcerias é possível avançar, mesmo sem recursos.
Protocolos
O governo do Paraná ainda mantém em sigilo os protocolos assinados com as indústrias automobilísticas que se instalaram no Estado.
Promessas
A decisão do PSDB do Espírito Santo de proceder a uma prévia popular, antes de definir seu candidato, abre perspectivas para a afirmação de uma das grandes promessas administrativas do país: o ex-prefeito de Vitória, Paulo Hartung.
Junto com seu sucessor, Luiz Paulo Vellozo Lucas, ambos lograram reduzir o peso da folha de salários da prefeitura a 55% das receitas totais. E implementar políticas urbanas bastante criativas.

E-mail: lnassif@uol.com.br

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