São Paulo, quinta-feira, 2 de outubro de 1997
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"Não sou músico de jazz", diz Sanders

CARLOS BOZZO JUNIOR
ESPECIAL PARA A FOLHA

Pharoah Sanders é saxofonista, flautista e "arranha" vários instrumentos. Mas foi com o saxofone que esse senhor de 57 anos, nascido em Little Rock, Arkansas, integrou a banda de John Coltrane entre 65 e 67, em sua fase mais mística e radical.
Tocou com Dewey Redman (pai do saxofonista Joshua), Don Cherry (padrasto da cantora Neneh), Ornette Coleman e Sun Ra, mas odeia ser chamado de músico de jazz.
"Não sou um músico de jazz. Eu faço world music", disse, em entrevista à Folha por telefone, de sua casa, em Nova York, na última terça, enquanto cozinhava.
Seu último CD, "Message From Home", lançado em 96, é repleto de beats hipnóticos, em que o tradicional se mistura ao novo, resultando em suingados mantras pós-modernos.
Os harmônicos de seu sax poderão ser ouvidos no Free Jazz, dia 11, em São Paulo, no Bourbon Street; e dia 12, no Rio de Janeiro, no Museu de Arte Moderna.
*
Folha - No seu último trabalho, "Message from Home", percebe-se cantos que assemelham-se aos dos Bayaka, pigmeus africanos. Você os conhece?
Pharoah Sanders - Andei pela África um tempo e conheci alguma coisa dos pigmeus, mas não me lembro se são esses.
Folha - Nesse mesmo CD, há um tema chamado Kumba. O que é Kumba?
Sanders - Não sei.
Folha - Há, no mesmo tema, uma letra. O que ela diz?
Sanders - Não sei (rindo). Eles cantam em outra língua. Um momento, por favor... Desculpe, é que estou cozinhando. Vou ser sincero com você, não sei o que cantam.
Folha - Qual é sua relação com música?
Sanders - Adoro tocar música, mas não sou uma pessoa que quer saber música. Apenas quero tocar, para deixar minha mensagem.
Folha - Qual o nome que você dá ao tipo de música que você faz?
Sanders - Não sou um músico de jazz. Eu faço world music.
Folha - O que você acha da música brasileira?
Sanders - Eu adoro essa música. É a segunda vez que vou ao Brasil e...
Folha - Quando você esteve aqui?
Sanders - Isso foi em 1988, talvez em 89... Não me lembro muito bem, mas tocamos e não recebemos.
Folha - Onde e como foi isso?
Sanders - Não me lembro, era um grande hotel, e foi alguma coisa mal empresariada... Mas isso ocorre em todo o mundo.
Folha - O que você quer tocar para nós?
Sanders - Isso será uma surpresa (rindo).
Folha - Você trará Hamid Drake (baterista) com você?
Sanders - Eu o adoro. Ele pode tocar qualquer tipo de coisa. Mas, infelizmente, ele está fazendo um outro trabalho e não poderá ir. Não escolhi quem irá ainda. Amanhã, vou decidir quem irá comigo.
Folha - O que você espera do futuro?
Sanders - Espero fazer um disco com músicos brasileiros, porque vocês têm músicos formidáveis aí.

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