São Paulo, sexta-feira, 3 de outubro de 1997
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Kit de exame de sangue não é testado

AURELIANO BIANCARELLI e LUCIA MARTINS

AURELIANO BIANCARELLI; LUCIA MARTINS
DA REPORTAGEM LOCAL

Inspeções em bancos e hemocentros são feitas a cada 18 meses, intervalo considerado três vezes maior que o ideal

Os kits para testes sorológicos empregados nos bancos de sangue não passam por nenhum controle de qualidade. E as inspeções nos bancos e hemocentros são feitas em intervalos três vezes maiores do que o ideal.
Segundo a direção da Vigilância Sanitária de São Paulo, o ideal é que as unidades sejam inspecionadas a cada seis meses. O problema já foi mais grave: segundo o ex-secretário Elisaldo Carlini, as inspeções praticamente não eram feitas alguns anos atrás.
No Estado de São Paulo, existem 492 pontos de transfusão de sangue (incluídos aí hospitais, hemocentros ou apenas agências transfusionais) -97 estão na capital.
A norma, segundo a direção da Vigilância Sanitária do Estado, manda que sejam feitas fiscalizações pelo menos duas vezes ao ano na maioria dessas unidades.
Para fazer a fiscalização do sangue na cidade, a vigilância tem uma regional e cinco núcleos de saúde. Os seis centros são responsáveis ainda por todas as inspeções feitas pela vigilância, como fiscalização de produtos, medicamentos etc. Cada equipe tem cerca de 20 técnicos, isto é, um total de 120 profissionais ao todo na cidade.
Se considerarmos que são necessárias cerca de 194 visitas anuais (duas visitas em cada um dos 97 locais), os 120 profissionais parecem insuficientes. Até porque existem férias e outras atribuições.
A prova disso está no relatório enviado pelos Estados ao Ministério da Saúde sobre as fiscalizações. Em São Paulo, foram feitas até setembro apenas 93 visitas a bancos de sangue no Estado.
Apesar de ser muito pouco comparando com o total de locais que colhem sangue (492), São Paulo foi o Estado que mais fiscalizou.
Marisa Lima Carvalho, diretora da Vigilância Sanitária do Estado, nega que haja locais que não recebem visitas da fiscalização. A explicação é que as regionais de saúde demoram a fazer a notificação das inspeções. "Às vezes, eles demoram a mandar."
Marisa nega que falte infra-estrutura e pessoal. "Os funcionários são suficientes. Temos condições de fazer a fiscalização, porque o sangue é nossa prioridade."
Kits inseguros
Todo o sangue doado passa por uma bateria de exames feitos com com o uso de kits. No caso do HIV, por exemplo, existem cerca de 15 kits diferentes importados, no mercado, mas nenhum passa por controle de qualidade. "A qualidade desses testes resulta num maior ou menor rigor na testagem", diz Amadeo Alquezar, da Fundação Pró-Sangue.
"Estamos há anos reivindicando um controle de qualidade sobre esses kits", afirma João Pedro Marques Pereira, presidente da Sociedade Brasileira de hematalogia e Hemoterapia.
Uma portaria de junho passado passou a exigir esse controle, que seria realizado pela Fundação Pró-Sangue. Mas até agora não entrou em prática. A secretaria da Vigilância Sanitária, Marta Nóbrega, disse que três institutos já foram contatados e que, em cinco meses, os controle passará a ser feito.

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