São Paulo, sexta-feira, 3 de outubro de 1997
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Pista de dança ganha literatura

ERIKA PALOMINO
COLUNISTA DA FOLHA

Club também é cultura. A literatura relativa às pistas de dança deixa o nicho das revistas especializadas, conquistando espaço nas prateleiras e junto a estados de consciência mais elevados.
Um punhado de publicações internacionais trata agora dos assuntos relacionados à cultura club de maneira séria e abrangente. O mais importante deles é "Altered State", do jornalista inglês Matthew Collin.
O autor parte do ano de 1988 para explicar a trajetória da house music e justificar a atual conjuntura da juventude inglesa.
"O que nós estamos fazendo nesses lugares? E por que afinal de contas nós estamos fazendo isso? O que faz as pessoas voltarem a essas situações várias e várias vezes em busca do maior divertimento?", pergunta Richard Benson, editor da revista "The Face".
A preocupação quase existencialista está em "Night Fever", coletânea de textos publicados pela revista inglesa entre 1980 e 1997, dentro da seção de resenhas de clubes e artigos afins.
Fora do contexto editorial, analisados sob circunstâncias atuais, os escritos ganham teor quase histórico. Como aqueles que relatam o surgimento de fenômenos como a dança vogue; o drum'n bass; a mudança do comportamento dos clubes gays etc.
"Ecstasy Reconsidered" é a revisão de "Ecstasy and the Dance Culture", megassucesso do pesquisador inglês Nicholas Saunders, que ganhou até edição brasileira pela Publisher Brasil este ano.
Reunindo a maior quantidade de informação disponível sobre a droga que é mais comumente associada à cultura club, Saunders vai mais fundo agora em entrevistas com psiquiatras e sociólogos. Outra novidade são suas impressões sob a luz de suas próprias experiências "como um porquinho de estudos", conforme diz.
Espécie de Timothy Leary do Ecstasy, Saunders serviu voluntariamente de cobaia para diversos institutos de pesquisa.
Tratando a cultura club sob uma ótica mais geracional, "Portrait of a Generation - The Love Parade Family Book" é o primeiro documento fotográfico do núcleo central de clubbers e ravers dentro da festa alemã que é considerada a maior celebração do tecno no mundo. A última edição do evento reuniu 1 milhão de pessoas.
Dentro do segmento ficção, o autor norte-americano Douglas Rushkoff, considerado a resposta da América a Irving Welsh, autor de "Trainspotting", acaba de lançar "The Ecstasy Club".
Rushkoff, de 35 anos, estreou em 94 com o cultuado "Cyberia", inspirado no universo dos hackers. Desta vez o autor toma como ambiente uma rave futurista, com seus personagens e experiências.
"Para mim, a cultura rave e o Ecstasy não são a mesma coisa", diz o autor, que se coloca fora das duas situações, em entrevista à revista "Muzik" deste mês.
Rushkoff parece saber do que fala. À certa altura, um de seus personagens dispara: "Os eventos (da cultura club) só são reais no tempo presente. Antes de eles acontecerem, são o hype; depois que acontecem, são a fofoca. Uma festa é mais sobre os flyers e sobre o folclore do que sobre ela mesma."
Registrar o buzz sob a luz estrobo, eis a importância desses livros.

Sobre cultura club às págs. 4-6 e 4-7

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