São Paulo, sexta-feira, 3 de outubro de 1997
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Presidente do Masp rebate dúvida sobre acervo do museu

"Se alguém suspeita, que acuse formalmente", diz Neves

LUIZ ANTÔNIO RYFF
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente do Masp, o arquiteto Júlio Neves, disse não permitir o acesso ao acervo do museu para verificar se há obras de arte que tenham sido roubadas pelos nazistas durante a Segunda Guerra.
A Folha publicou ontem reportagem em que o especialista Hector Feliciano e o escritor Fernando Morais aventam a hipótese de que o Masp tenha obras pilhadas.
"Eu não suspeito de nada. Se alguém suspeita e quer fazer alguma acusação, que faça formalmente. Aí nós vamos tomar as providências", afirmou Neves à Folha.
Conhecedores da história do Masp, como Gilberto Chateaubriand, filho do fundador do museu, Assis Chateaubriand, acreditam que o acervo do Masp possa abrigar quadros pilhados.
"Acredito piamente que alguns quadros da coleção dos impressionistas tenham pertencido a famílias saqueadas pelos nazistas", disse Chateaubriand.
Essa suspeita se baseia em alguns pontos. Primeiro: documentos do serviço secreto americano feitos no final da guerra e publicados pela Folha revelam que o tráfico de obras pilhadas tinha conexões no Brasil.
Além disso, há suspeitas de que Georges Wildenstein, o marchand que vendia as principais obras para o Masp, fez negócios com os nazistas.
Esta semana, herdeiros de Alphonse Kann (importante marchand francês) estão entrando com um processo na Justiça norte-americana contra a família Wildenstein, acusada de estar com manuscritos medievais que pertenciam a Kann e desapareceram após sua coleção ter sido confiscada pelos nazistas.
O Masp não é o único museu de grande porte a ter parte do acervo colocada sob suspeita: em 1996, obras roubadas pelos nazistas foram achadas em museus espanhóis, suíços, alemães, americanos e franceses (entre eles o Louvre, o Centro Georges Pompidou e o D'Orsay).
"Tenho mais o que fazer do que responder sobre suspeitas", disse Neves, que aceita que o acervo do museu seja vistoriado por especialistas, desde que seja feita "acusação formal".
Como, geralmente, os alemães faziam inventários das coleções confiscadas, catalogavam os quadros e faziam inscrições que identificavam as peças, não seria necessária uma expertise. Bastaria saber quais são os códigos para cada família.
Neves, entretanto, se recusou a deixar a reportagem da Folha ter acesso às obras. "Eu não vou abrir nada, meu filho. Você põe um advogado, põe quem quiser, aí nós fazemos", disse.

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