São Paulo, sexta-feira, 3 de outubro de 1997
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Olivia Byington faz tributo incomum a Aracy de Almeida

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

"A Dama do Encantado", de Olivia Byington, é um disco-tributo mais ou menos incomum.
A cantora homenageia não algum autor, mas sim outra intérprete: Aracy de Almeida (1914-1988). Embora isso signifique quase um tributo a Noel Rosa, o mais emblemático compositor de Aracy, contempla também outros compositores de anos idos da Música Popular Brasileira.
Há canções de Assis Valente, Pedro Caetano, Claudionor Cruz, Ary Barroso, Haroldo Barbosa, Henrique e Marília Batista, Zé da Zilda, Carlos Cachaça, Cartola, Antonio Maria e Custódio Mesquita, entre outros.
Curtição
"Comecei essa pesquisa em cima da curtição por Noel Rosa. Aí fui vendo a importância da personalidade da Aracy na obra dele. Ela era muito moderna, cantava samba como ninguém. Fui me apaixonando por ela, ouvi 400 canções em três anos de trabalho", conta a cantora.
Ela define o universo que encontrou: "São memórias gloriosas e trágicas ao mesmo tempo. Os artistas tinham tuberculose, sífilis. Noel morreu muito cedo, Custódio Mesquita também. Eles viviam intensamente, parecia que o mundo ia acabar".
Olivia diz ter se encantado pelo espírito transgressor de Aracy. "Enquanto a rival dela, Marília Batista, era a boa moça, a neta do barão, Aracy era suburbana, cantava para Noel nos bordéis do mangue."
Nada em comum, portanto, com a história de Olivia, mulher de classe média inclinada a trabalhos musicais de apelo comercial restrito. "Descobri que somos almas gêmeas em épocas diferentes e com histórias diferentes, mas com musicalidades muito parecidas."
Para interpretar a intérprete, Olivia optou por descer vários tons de sua voz tendente ao agudo.
"Baixei três tons, às vezes até cinco, usei mais o vibrato, coisa que nunca tinha feito -minha voz é lisa, de soprano. Mas não é uma clonagem, não quis imitar a voz dela, o estilo, a maneira de cantar. Baixei os tons para cantar samba, não dá para cantar samba como soprano."
Olivia define o tributo a Aracy como virada de carreira. "Todo mundo fala que sou chique, elitista, mas não é por aí. Talvez até seja, mas sou acessível. Esse é meu CD mais popular, tenho vontade de fazer mais samba daqui em diante."

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