São Paulo, sábado, 4 de outubro de 1997
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Um papa que improvisa

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

A fala vinha na mesmice até que terminou o escrito e o papa começou o espetáculo. Fez uma reflexão improvisada, bem-humorado:
- A cidade do Rio cria uma inspiração. Porque se vê esta arquitetura divina. E também se vê a arquitetura humana. A arquitetura divina é superior, por uma parte. Mas também se vê que o homem é arquiteto, o homem é a imagem de Deus. A inspiração da arquitetura para a família é importante, porque ela necessita essa arquitetura divina e humana para viver, para permanecer, encontrar uma casa...
Sempre a atenção social. Mas ele se confundia no português e fechou o improviso com um "basta" sorridente, que fez o público rir e interferir:
- Viva o papa! Viva!
E o papa, em novo "caco":
- Vive todavia.
Vive apesar da idade, apesar da bengala, que ele mostrou depois, rindo. Cantaram "João de Deus", e o papa:
- Este canto vem de 1980. O papa era muito mais jovem.
O público estava encantado. Um analista, nas poucas redes que transmitiam, Manchete, Globo News, Rede Vida:
- É uma coisa formidável. Espontaneamente, o papa se dirigiu ao povo... Continua com o carisma, com a empatia com a multidão.
Um ator, um grande ator, diante de seu público. A todo momento ele se despedia, mas não conseguia animar-se para sair. Alguém fala na platéia, e ele repete, feliz:
- Se Deus é brasileiro, o papa é carioca.
Delírio. Mas, para não dar privilégio, ele retrucou:
- Em Porto Alegre dizem "o papa é gaúcho".
Mais delírio, e ele:
- Depois dos jovens de Paris as famílias de São... do Rio de Janeiro. Do Brasil!
Delírio. Com dificuldade, vai saindo, e ouvindo:
- Fica! Fica! Fica!

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