São Paulo, domingo, 5 de outubro de 1997
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Bomba caseira explode 20 minutos depois da passagem de João Paulo 2º

DA SUCURSAL DO RIO

Um incêndio foi registrado na manhã de ontem casa nº 774 da rua Itapiru, no Rio Comprido (zona norte do Rio), por onde o papa João Paulo 2º havia passado cerca de 20 minutos antes, em direção à catedral metropolitana.
O quartel do Comando Geral dos Bombeiros, na praça da República (centro), foi acionado para apagar o incêndio às 8h51. O papa havia chegado à catedral às 8h37.
No local do incêndio foram apreendidas 12 garrafas, algumas delas com líquido combustível e com rojões amarrados ao gargalo. As garrafas foram enviadas para a perícia. Segundo os policiais que examinaram as garrafas no local, trata-se de artefatos rudimentares.
A Polícia Federal e o Exército foram informados a respeito do incidente. A Folha apurou que a PF não encara o ocorrido como tentativa de atentado contra o papa.
O dono da casa, Acácio Queiroz, 83, foi levado pelos bombeiros para o Instituto Philippe Pinel, um hospital psiquiátrico na zona sul.
O delegado Paulo Patrício de Oliveira, titular da 6ª Delegacia de Polícia, onde foi aberto inquérito para investigar incêndio criminoso, disse que trabalha com a hipótese de Queiroz ter decidido botar fogo na casa devido a problemas com seus inquilinos que moram no segundo andar.
Queiroz não prestou depoimento e foi levado para o Pinel porque estaria "muito exaltado". Inquilinos da casa disseram ter ouvido seis explosões ontem.
Bloqueio
O soldado da Polícia Militar Carlos Antônio de Oliveira Aquino, 33, furou o cerco policial e foi preso quando tentava entregar ao papa João Paulo 2º uma carta em protesto por melhores salários e uma cópia de seu contracheque.
O solitário protesto do PM tumultuou a passagem do papa pelo Inca (Instituto Nacional de Câncer), na praça da Cruz Vermelha, no centro do Rio. O papamóvel parou diante do hospital às 10h30, e o papa abençoou os pacientes e cerca de 2.000 fiéis que estavam na praça e nas ruas vizinhas.
Minutos depois, quando o papamóvel estava de saída, o soldado Carlos Antônio de Aquino, do Batalhão de Choque, correu em direção ao veículo para entregar a carta e foi detido. O PM estava fardado e participava da segurança.
Carta
Na carta, que chegou às mãos dos jornalistas, o soldado diz que é católico, está noivo e tenta se casar, mas o salário não permite. Seu salário líquido é de R$ 556,18.
"A última esperança de sensibilizar os governantes é Vossa Santidade, porque o problema aflige toda a classe policial, que arrisca suas vidas 24 horas por dia. (...) Sei que serei preso e, quem sabe, serei expulso da PM", dizia a carta.
O bispo-auxiliar do Rio, d. Filippo Santoro, disse que, de dentro do papamóvel, não se percebeu a confusão provocada pelo protesto.

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