São Paulo, domingo, 5 de outubro de 1997
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Plano de doença

JANIO DE FREITAS

Ao fim dos vários anos de discussão sobre um regulamento para as relações entre os 800 planos de saúde e seus 41 milhões de associados, o governo fechou a semana voltando atrás no que dizia ser indispensável aos segurados. Os parlamentares de uma comissão especial, com a rapidez própria das conveniências suspeitas, deram por concluído o projeto de regulamento, a ser logo apresentado para votação pelo deputado Pinheiro Landim -acusado de adotar projeto feito pela associação dos planos de saúde.
Um dos itens adotados dificulta, quando não impossibilita, que os abusos de planos de saúde sejam enquadrados no Código de Defesa do Consumidor, cabendo sua fiscalização à mesma Susep de tão pouca valia para os cidadãos nos contratos e serviços de seguros em geral.
Entre outros primores da farsa montada pelo governo e um punhado de deputados, com aparência de avanços até aplaudidos já por alguns jornais, está a falsa solução para o desamparo dos que, aposentando-se, perdem o seguro de saúde em grupo. É um problema grave, porque o desamparo acontece quando a proteção é mais necessária.
O projeto "assegura a manutenção no grupo do aposentado que pague a sua e a parcela do empregador" -e desde que esteja no plano de saúde em grupo há mais de dez anos. Como a criação de planos de saúde na empresa privada é recente, coisa de poucos anos e nem muito expandida ainda, só uma parcela mínima dos assalariados tem os tais dez anos ou está próxima disso.
Representante do governo na comissão especial, o deputado Ronaldo Cezar Coelho atribui os recuos, todos em benefício das empresas de planos de saúde, a um "consenso entre os partidos" que deixou imobilizados o governo e sua representação. Foi desmentido de imediato.
No lugar certo
Contestação viva da leis da hereditariedade, o senador Teotonio Vilela Filho, que tem o título de presidente do PSDB, acha que o herói da repressão na ditadura, general Nilton Cerqueira, só pôde entrar no partido porque Marcello Alencar o considerou "perfeitamente sintonizado com o projeto peessedebista". É certo que está. O general Cerqueira sempre esteve sintonizado com o gênero de justiça social e de imposições do tipo medidas provisórias que o PSDB e seu governo têm praticado.
Contraste
Karol Wojtyla tem a simpatia dos campônios robustecidos na lida com a terra bruta, vergados menos pelo tempo que pelo trabalho acumulado no lombo, e simples, todos simples como a sua sabedoria das coisas fundamentais. Vê-lo é rever a figura tocante do campônio com sua parelha de cavalos bretões, o vinhateiro provençal, o hortelão das bordas do Reno, o floricultor dos Países Baixos, esses alicerces dos séculos e do berço europeu do Ocidente.
Por isso João Paulo faz parecerem mais absurdos os dourados e carmins, os cetins e as rendas, a riqueza e a pompa em que a Igreja envolve os seus hierarcas.

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