São Paulo, domingo, 5 de outubro de 1997 |
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Jovem troca união legal por consensual FERNANDO ROSSETTI FERNANDO ROSSETTI; RENATO KRAUSZ; JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
O casamento formal, seja no civil, seja no religioso, é cada vez menos frequente no Brasil. Nos últimos 25 anos, quadruplicou a proporção de pessoas com uniões consensuais, ou seja, de casais que simplesmente "se juntam". Esse movimento é ainda mais marcante entre os jovens, especialmente, entre os adolescentes (15 a 19 anos), que chegam a classificar como "bobeira" o casamento tradicional -aquele que é sacramentado por juiz e padre. "Estamos assistindo a um declínio acentuado dos casamentos legalizados", diz Elza Berquó, pesquisadora do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) e uma das principais especialistas do país nessa área. O curioso é que a proporção de pessoas que se unem não mudou. O que está em significativa transformação são as formas de união, revela um estudo que Berquó apresentou na semana passada, durante o Fórum Internacional sobre Protagonismo Juvenil, em São Paulo. A partir das constatações da pesquisadora, a Folha realizou um novo estudo com dados do IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que é responsável pelos censos e por pesquisas sobre a população no país. Resultado: em 1970, um décimo (12%) dos adolescentes "casados" tinham uniões consensuais; em 1995, ou seja, 25 anos depois, eram mais da metade (63%). No mesmo período, os casamentos no civil e no religioso caíram de 45% para 17% dos casais adolescentes. Só no religioso, caíram de 17% para 5%. Mudança cultural Há várias explicações para isso. Mas os especialistas sempre começam a análise desse fenômeno a partir da constatação de que a cultura brasileira está mudando. "Hoje há uma visão mais ampla de união. As pessoas se sentem mais à vontade para não se casar legalmente. Sabem que, numa união consensual, já não vão sofrer o mesmo estigma que havia no passado", diz Juarez de Castro Oliveira, chefe da Divisão de Estudos e Análises Demográficas do IBGE. Essa "visão mais ampla" está influenciando inclusive as práticas da Igreja Católica -que, pela tradição, não poderia aceitar a união carnal antes do casamento. "Eu já fiz vários casamentos no dia em que os noivos foram batizar o primeiro filho, procedimento que antes não era normal", afirma o padre Fernando Altemeyer, 40, vigário de comunicação da Cúria Metropolitana de São Paulo. Segundo ele, a igreja é contra esse tipo união. "Mas temos que compreender e aceitar. É um fato real que os jovens estão se juntando muito." Os dados levantados pela Folha também refutam aquela idéia de que os jovens estão ficando mais conservadores nos últimos anos: entre 1992 e 1995, as uniões consensuais continuaram crescendo e as legalizadas, diminuindo. "Isso reforça a posição de que não se pode fazer comparações ligeiras entre gerações de jovens", diz a socióloga Helena Abramo, assessora na área de juventude da Ação Educativa, organização não-governamental de São Paulo. LEIA MAIS às págs. 2, 3 e 4 Próximo Texto: Para adolescentes, casamento é 'bobeira' Índice |
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