São Paulo, domingo, 5 de outubro de 1997
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Coluna Joyce Pascowitch

JOYCE PASCOWITCH

Britadeira
Não adianta -ou melhor, ainda bem: mulher é sempre mulher. No bom sentido da coisa, é claro. Pode ser desfrutável, perdulária e desmiolada. Pode ser determinada, trabalhadora, engajada -como Diolinda Alves de Souza. Fotografada por Bob Wolfenson, levemente penteada e maquiada por Mauro Freire -sim, ela também é vaidosa e gosta de se perfumar-, ela não consegue em São Paulo ser a mesma cabrita indomada que manda e desmanda no Pontal do Paranapanema: cheia de personalidade, sim, mas meio acuada -cidade grande não é com ela.
Mas a questão do campo é sim, e a questão feminina também. Quando o assunto é amor, ela é tão sem-terra quanto as com-terra, todas iguais, todas mulheres. Casada com José Rainha, líder do Movimento dos Sem Terra, tem um filho de quatro anos, João Paulo, que cria com um pé em casa, um nos acampamentos e outro no celular, controlando tudo. Se acha feminina, sim senhor. Trata os homens de igual para igual. E viva a semelhança.
*
O que falta a mulher colher?
A liberdade dela.
Sexo frágil quebra?
Arrebenta.
O que nunca deve ser dividido?
O amor -dividir por que?
Que fruto a terra não dá?
A vida -que deve ser regada todos os dias.
Quando não vale a pena pular (ou derrubar) a cerca?
Quando já está tudo dividido.
O companheiro ideal é aquele que...
Sente amor.
O que rima com propriedade?
Fazendeiros.
Que causa é improdutiva?
A violência.
O que faria se invadissem a sua praia?
Convidaria todo mundo para tomar banho de mar.
O que nenhum assentamento resolve?
A fome.
Com quem não dividiria um palanque?
Com a UDR -Deus me livre!
Com terra ou sem roupa?
Sem-terra.
Que prazer vale um latifúndio?
Nenhum.
Felicidade se mede em acres?
A felicidade de um sem-terra vale 18 hectares.
Qual a melhor primeira vez?
A primeira "invasão".

E-mail joyce@uol.com.br

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