São Paulo, domingo, 5 de outubro de 1997
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Evangélicos reúnem 300 mil nos EUA

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Pelo menos 300 mil homens de todo o país se concentravam na manhã de ontem em frente à sede do Congresso dos EUA à espera do início, às 12h locais (13h em Brasília), da maior manifestação da entidade evangélica Guardiões da Promessa (Promise Keepers).
A organização, que se diz apolítica, tem como objetivo expresso fazer com que os homens "tirem os olhos de seu trabalho e os dirijam para suas casas", segundo seu fundador e líder, Bill McCartney.
A presidente da Organização Nacional das Mulheres (NOW), Patricia Ireland, acusa os Guardiões da Promessa de tentarem eliminar conquistas sociais obtidas pelas mulheres nos últimos 30 anos.
O Centro de Estudos Democráticos, de orientação liberal, diz que a entidade serve de fachada para a disseminação da ideologia conservadora no país e para apoiar candidaturas políticas conservadoras.
A manifestação de ontem poderá ter sido a maior de caráter religioso, em número de participantes, da história do país, batendo as 600 mil pessoas que assistiram missa rezada pelo papa João Paulo 2º em 1994 em Denver, oeste.
Mas não haverá um número oficial para o evento de ontem. A Polícia de Parques dos EUA, que durante 30 anos fez a estimativa oficial de participantes em concentrações de massa em Washington, foi proibida pelo Congresso de continuar com essa missão.
A decisão foi tomada depois que o líder muçulmano negro Louis Farrakhan ameaçou processar a Polícia de Parques por ter afirmado que 400 mil pessoas estiveram na Marcha de 1 Milhão de Homens Negros em 1995 (para Farrakhan, elas foram 1,5 milhão).
Os Guardiões da Promessa disseram que não pretendem estimar a multidão. Mas a polícia de Washington vai fazer uma avaliação informal. Ela se preparava ontem para lidar com 700 mil pessoas.
Bill McCartney disse a jornalistas pouco antes do início da manifestação que "as senhoras estão preocupadas conosco e com razão. Mas para ficarem despreocupadas, elas só precisam falar com as senhoras dos nossos integrantes".
Ele diz que não é contra as mulheres nem a favor do restabelecimento de uma sociedade patriarcal. Mas diz que não pretende jamais aceitá-las em sua entidade.
"As senhoras se reúnem entre si com mais frequência, são mais transparentes e dividem seus sentimentos mais do que os homens. Os homens tendem a guardar tudo dentro de si e relutam em mostrar emoções, ainda mais na frente das senhoras", diz ele para justificar a exclusividade masculina do grupo.
Para enfatizar sua declaração de que a entidade é apolítica, McCartney argumentou que o evangelismo "crê na redenção humana pelo coração, nunca pela lógica".
McCartney acha que homossexualismo é pecado e aborto é crime. Mas diz que esses não são temas predominantes na entidade. Sobre o futuro, diz que pretende chegar a "todo homem no país e, depois, do mundo inteiro".

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