São Paulo, segunda-feira, 6 de outubro de 1997
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Violla traz Brasil na bagagem

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Danças brasileiras pouco conhecidas e de regiões distantes -como o lundu da Ilha de Marajó- chegam ao salão urbano para compor a coleção de passos e ritmos do espetáculo "Bailes do Brasil", de J.C. Violla, que estréia dia 11 no Teatro Cultura Artística.
Resultado de quase dez anos de pesquisa, "Bailes do Brasil" reúne 20 coreografias cujas origens traçam um painel abrangente das danças regionais brasileiras.
"Queria fazer um espetáculo alegre, capaz de revelar as danças lindas que o Brasil possui. Em uma cidade como São Paulo, desprovida de identidade cultural, é importante mostrar essas manifestações", diz o bailarino, coreógrafo e professor J.C. Violla, que também se tornou um bem-sucedido mestre de danças de salão.
Ao longo de pesquisas que incluíram inúmeras viagens, Violla se deteve por exemplo nas manifestações de Goiânia (GO). "Foi lá que descobri a dança dos tapuios, que mescla movimentos de lutas de espadas européias com o gestual indígena do uso de arco e flexa", ele comenta.
"Mais tarde, percebi que a dança dos tapuios também existia em Pernambuco, com o nome de caboclinhos. Em São Paulo, há ainda a dança dos caiapós, que lembra a dos tapuios."
Nesse processo de descobertas, Violla chegou à Ilha de Marajó, onde se deparou com o lundu. "Trata-se de uma das danças mais bonitas do Brasil. Praticada em cerimônias africanas que antecediam o casamento, o lundu culminava no ato sexual, e por causa de sua sensualidade foi proibida pela Igreja. Em seus movimentos é interessante notar que o homem tinha de mostrar para a mulher que rebolava tanto quanto ela."
Além de documentar as danças em vídeo, Violla foi recolhendo músicas típicas, depois integradas à trilha sonora do espetáculo, que também reúne composições de autores como Pixinguinha, Anacleto de Medeiros e Chico Buarque.
Fontes como os filmes de Humberto Mauro, que registrou coreografias populares brasileiras, também fizeram parte das pesquisas de Violla. Ele ainda chegou a trazer a São Paulo mestres regionais como Norton do Carmo, para ensinar a seu elenco a chula, encontrada no Norte e Nordeste.
Com 1h10 de duração, "Bailes do Brasil" não é uma demonstração de danças em estado puro. "Como coreógrafo paulista, de formação cosmopolita, realizei uma releitura, em que as expressões regionais se fundem às danças brasileiras de salão. Também enriqueci danças como o chamamé, do Rio Grande do Sul, com as diferentes maneiras como ela se manifesta em diversos lugares do país."
Contando com direção, cenografia e figurinos de Naum Alves de Souza, "Bailes do Brasil" é interpretado por 34 bailarinos, alunos de Violla, além de duas profissionais convidadas, Nelly Guedes e Angela Nolff. Também o próprio Violla dança como solista.
Depois de coreografar para elencos como o do Balé da Cidade de São Paulo, Violla rompeu a barreira entre bailarinos profissionais e cidadãos comuns. Também é reconhecido como autor de espetáculos sofisticados, protagonizados por pessoas que jamais sonharam em fazer da dança uma profissão.

Espetáculo: Bailes do Brasil
Quando: 11 de outubro a 16 de novembro, quinta a sábado às 21h; domingo às 18h
Onde: Cultura Artística (r. Nestor Pestana, 196; tel. 011/258-3616)
Quanto: de R$ 20,00 a R$ 25,00

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