São Paulo, terça-feira, 7 de outubro de 1997
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Arte de Rauschenberg ainda causa impacto

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM NOVA YORK

Depois de redefinir a arte deste século, Robert Rauschenberg continua causando impacto com o vigor de suas obras recentes.
Para mostrar a grandeza deste artista que vem explorando múltiplos temas, estilos, materiais e técnicas, o Museu Guggenheim, de Nova York, acaba de inaugurar a maior retrospectiva já realizada sobre Rauschenberg. Até 7 de janeiro de 1998, este megaevento revela o percurso espetacular de Rauschenberg em quase 50 anos, reunindo mais de 400 obras.
Para exibi-las, os seis andares da sede do Museu Guggenheim na 5ª Avenida não foram suficientes. Por isso, a exposição se estende ao Guggenheim SoHo (número 575 da Broadway Avenue) e à terceira filial do museu na Ace Gallery (275 da Hudson Street).
Eventos paralelos, como conferências e mostras de filmes estarão ocorrendo durante os quase quatro meses do evento.
Em exibição permanente no Guggenheim SoHo, há a projeção em vídeo de 25 excertos de performances e espetáculos de dança que Rauschenberg criou ou participou como colaborador.
Além de sua obra gigantesca nas artes plásticas, Rauschenberg é considerado coreógrafo. Em performances às vezes aliadas à tecnologia, o artista coreografou peças como "Pelican", de 1963, em que um bailarino lida com a oposição de forças dos patins, que aceleram a velocidade de seus pés, e os efeitos de freagem de um pára-quedas colocado em suas costas.
Parceiro do compositor John Cage e do coreógrafo Merce Cunningham, o artista também colaborou com mais duas instituições da dança moderna norte-americana: Paul Taylor e Trisha Brown.
Nascido em Port Arthur, Texas (EUA), em 1925, Rauschenberg começou a estudar arte quando obteve dispensa do exército norte-americano, em 1945.
Em Black Mountain College (Carolina do Norte), onde foi aluno de Josef Albers, professor da Bauhaus, Rauschenberg encontrou pela primeira vez John Cage e Cunningham. A profunda amizade que nasceu entre os três renderia muitos frutos criativos em seguida.
A associação da pintura com materiais da mídia, como folhas de jornais, fotos e reproduções gráficas marcou as obras de 1949 a 1954 -período fértil em que também criou suas primeiras monogravuras, além de notabilizar-se como fotógrafo e artista performático.
Após seu encontro com o expressionismo abstrato em 1949, Rauschenberg lançou em 1952 o método da combinação, em colagens que traziam para o domínio da pintura abstrata as imagens do mundo real, como um par de sapatos ou uma galinha empalhada.
Em obras deste gênero, ele apagou os limites não só entre pintura e escultura mas também entre arte e vida. Ao dar novas conotações a objetos ordinários, Rauschenberg expandiu o conceito de "readymade" de Marcel Duchamp.
Em 1963, Rauschemberg já ostentava o prêmio da Bienal de Veneza, sendo considerado o principal artista de sua geração. Também identificado como uma expressão da Pop Art, por ter incorporado reproduções de jornais e revistas em desenhos, pinturas e gavuras, ele iniciaria um trabalho pioneiro com a tecnologia.
No Guggenheim Soho, a obra "Mud Muse" é uma mostra disso. Feita com a ajuda de engenheiros, esta peça lúdica se compõe de uma tina quadrada de alumínio e vidro, dentro da qual um barro arenoso borbulha sob a ação de um sistema de ar comprimido. Produzindo sons, movimentos e estímulos visuais, "Mud Muse" extrai de materiais simples um universo sensorial que só o gênio de Rauschenberg poderia inventar.

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