São Paulo, quarta-feira, 8 de outubro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SP registra quatro rebeliões em 13 horas

DA REPORTAGEM LOCAL

A cidade de São Paulo viveu ontem mais um dia de revolta em cadeias. Foram quatro em cerca de 13 horas -três em distritos policiais, de responsabilidade da Secretaria da Segurança Pública, e uma na Casa de Detenção, da Secretaria da Administração Penitenciária.
Em uma delas, no 27º DP (Campo Belo), houve confronto entre presos e policiais civis. Um detento levou um tiro na cabeça e teve morte cerebral. Pelo menos 15 pessoas ficaram feridas.
Com os casos de ontem, sobe para 21 o número de rebeliões em delegacias da capital. Em todo o ano passado, foram 16 revoltas. Nos presídios, o número também é recorde: 15 casos neste ano, contra 16 nos últimos dois anos.
Nos três distritos, o motivo para as rebeliões foi o mesmo: superlotação. De acordo com a Secretaria da Segurança, as delegacias e cadeias públicas do Estado abrigam, segundo dados de 24 de setembro, 30.905 presos em 16.698 vagas.
O problema, segundo o órgão, é que 16.289 desses presos já foram condenados e deveriam estar em penitenciárias. Por essa razão, segundo sua assessoria de imprensa, o secretário José Afonso da Silva não fala a respeito do assunto.
O secretário da Administração Penitenciária, João Benedicto de Azevedo Marques, também não comenta as rebeliões nas delegacias e cadeias públicas. "Não posso falar sobre aquilo que não é da minha área."
Questionado sobre a situação dos presos condenados que não estão em penitenciárias, Marques, no entanto, afirma que o problema existe desde 70.
"Por esse motivo, vamos construir 12 unidades para retirar os presos de delegacias da capital, Grande São Paulo, litoral e parte de Campinas." No total, são cerca 9.300 vagas. A maior parte dos recursos (75%) vai sair da Secretaria da Segurança Pública.
O juiz-corregedor da Polícia Judiciária, Francisco Galvão Bruno, voltou a afirmar ontem que o número de rebeliões de presos deverá aumentar até o final do ano.
Segundo o juiz, não é mais possível manter presos perigosos em delegacias, onde, teoricamente, é mais fácil fugir. "Superlotar os presídios é uma decisão politicamente perigosa, mas é mais responsável com a população. Isso é uma decisão de governo."
Marques não concorda com a forma de desafogar as delegacias e cadeias públicas defendida por Bruno. "Como retirar os condenados se não há penitenciárias suficientes para colocá-los?"

Texto Anterior: Familiares se revoltaram
Próximo Texto: As rebeliões em SP
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.