São Paulo, quarta-feira, 8 de outubro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ABC da ignorância

GILBERTO DIMENSTEIN

As novas gerações de policiais de Nova York têm pelo menos dois anos de faculdade.
É sinal de uma inexorável tendência que molda o mercado de trabalho no país, numa das mais valiosas estatísticas contemporâneas -desenha o novo perfil do trabalhador na era informação e como se ampliam os limites da marginalidade.
De cada 100 novos empregos gerados nos EUA pelos menos 80 exigem conhecimento de matemática e língua compatível a dois anos de ensino superior.
Cresce em proporções devastadoras a diferença salarial entre profissionais apenas com diploma de segundo grau e faculdade.
Ter apenas o primeiro grau seria comparável ao analfabetismo de poucos anos atrás. O destino do indivíduo com esse tipo de qualificação é de entregador de pizza, faxineiro a empregada doméstica.
Daí se entende porque o presidente Bill Clinton decidiu transformar sua visita ao Brasil numa pregação pela educação -em essência, revela uma obsessão americana, baseada no princípio elementar de que mais anos de estudos equivalem a mais dinheiro no bolso.
*
Acaba de sair um livro que coloca em números precisos os motivos dessa obsessão, intitulado "Ensinando Novas Habilidades" (editora Free Press).
O trabalho é a combinação de professores de Harvard (Richard Murnane) e do Massachusetts Institute of Technology (Frank Levy), com formações diferentes -Richard é pedagogo, Levy, economista.
Eles analisam a evolução dos salários nos últimos 15 anos, comparando com o nível de escolaridade. E alertam para o perigo de crescente desigualdade social.
O estudo mostra na ponta do lápis que o diploma de segundo grau deixou de ser hoje ingresso para entrar na classe média.
Para os padrões americanos, ele é candidato a pobre caso se mantenha com esse nível de escolaridade. Nível que já seria uma utopia no Brasil, onde a média da escolaridade do trabalhador é inferior a quatro anos, certamente o mais grave gargalo nacional.
*
Se existe consenso hoje em profissionais de recursos humanos é de que trabalhador do futuro deve ser um aprendiz permanente. Gente que nunca pára de se reciclar para se adaptar aos novos métodos e tecnologias.
O papel da escola, portanto, é ajudar o aluno a aprender como aprender.
Só um desinformado seria capaz de imaginar que vamos competir em nível de igualdade quando um professor de ensino básico ganha R$ 3,00 por aula -menos do que o minuto de uma ligação nas linhas telefônicas eróticas.
Nossas escolas vão continuar sendo usinas de ignorantes e obsoletos.
*
PS - Por meio do Universo Online está disponível gratuitamente uma publicação que merece ser lida, relida e guardada como material de consulta. A revista "Exame" lançou edição especial como os desafios nacionais se cruzam com os desafios do saber.
Recomendo também um texto valioso do professor Frederic Litto, coordenador da Escola do Futuro, da USP, sobre os equívocos e modismos da informática. É um dos importantes pesquisadores no Brasil sobre educação e novas tecnologias. Está no seguinte endereço: www.aprendiz.com./

Fax: (001-212) 873-1045
E-mail: gdimen@aol.com

Texto Anterior: EUA denunciam violações do Iraque
Próximo Texto: Produtora dos EUA filmará biografia da princesa Diana
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.