São Paulo, quarta-feira, 8 de outubro de 1997
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INFLAÇÃO BAIXA E DESEMPREGO

No início do Real, a abertura da economia continuava a forçar a indústria a se modernizar e a reduzir custos, agruras da exposição à concorrência externa. No mesmo período, os serviços e o setor informal, por sua vez, eram beneficiados pelo ganho de renda do consumidor e pela volta do crédito, propiciados pela estabilização. Quando o plano chegava ao seu terceiro ano, porém, parte dessa situação começou a mudar.
A fase inicial do plano de estabilização foi o período do crediário e de uma certa explosão no consumo. De tal cenário fazia parte um novo personagem -o "consumidor emergente", a população mais pobre, especialmente aquela parcela que trabalhava por conta própria ou no setor informal da economia.
Segundo o IBGE, entre 93 e 96, as vagas na indústria caíram em termos absolutos, enquanto o emprego nos serviços crescia pouco mais de 10%. Havia demanda crescente -do sapateiro às grandes redes varejistas.
A transferência de empregos da produção de bens para as atividades de serviços é uma tendência mundial. No caso do Brasil, porém, a valorização do real frente ao dólar contribuiu para acelerar essa mudança, pois os serviços não sofrem a concorrência das importações.
Agora, esgotado o efeito distributivo da estabilização, saturada a capacidade de endividamento dos consumidores e sem a perspectiva de crescimento mais vigoroso da economia, a situação do comércio e dos demais serviços já não é animadora como nos primeiros anos do Real.
Assim, a pressão por redução de custos -e de empregos- passa a atingir também as atividades que até há pouco vinham absorvendo parte da mão-de-obra dispensada pela indústria. Pode-se dizer que mais uma fase do plano está chegando ao fim.
Essa situação coloca evidentes desafios. Para evitar mais desemprego será preciso encontrar novos setores capazes de liderar o crescimento. A esperança parece recair sobre a construção civil e a área de infra-estrutura. São esperados novos investimentos, devidos às privatizações e às concessões de serviços ao setor privado. Não está claro, porém, se essas atividades terão magnitude para estimular o reaquecimento econômico.
As atuais previsões convergem para um crescimento modesto, com inflação baixa. Ainda que a inflação baixa deva ser saudada, o cenário em seu conjunto não é positivo para a criação de vagas de trabalho.

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