São Paulo, quinta-feira, 9 de outubro de 1997
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Ministério não tem controle total do sangue

AURELIANO BIANCARELLI; BETINA BERNARDES
DA REPORTAGEM LOCAL E DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pelo menos 1,2 milhão de pessoas por ano estão recebendo sangue que escapa ao controle da Vigilância Sanitária. O Ministério da Saúde não sabe se o sangue é bom ou se está contaminado.
Segundo a Cosah (Coordenadoria de Sangue e Hemoderivados), cerca de 15% do total de sangue coletado no país não tem controle. Em bolsas de sangue, essa porcentagem significa cerca de 450 mil, já que em torno de 3 milhões de doações são feitas no país.
O sangue de cada bolsa -entre 450 ml e 470 ml- é fracionado entre dois e três componentes. Os glóbulos vermelhos, por exemplo, vão para os pacientes com anemia. O plasma é destinado a queimados e doentes renais e cardíacos, entre outros. As plaquetas vão para pacientes que fazem quimioterapia e o crio, para hemofílicos.
Pelo buraco da falta de inspeção podem passar pelo menos seis contaminações. Cada bolsa de sangue é testada para seis "parâmetros" ou doenças. Por kits diferentes, testa-se a existência do HIV, do HTLV 1 e 2, das hepatites B e C, da doença de Chagas e da sífilis.
Só o pagamento das bolsas, dos kits sorológicos e da mão-de-obra especializada eleva o custo de cada bolsa para um valor entre R$ 80,00 e R$ 100,00. Nos bancos de sangue de referência, que trabalham com rigor máximo, descarta-se cerca de 25% do sangue coletado. De cada quatro doações, uma é jogada fora por suspeitas nos testes ou nas entrevistas.
A se julgar pelo alto custo e pelo alto nível de exigência no controle de qualidade, estima-se que a quantidade de sangue que escapa ao controle oficial é maior do que os 15% anunciados pelo ministério. As vigilâncias estaduais não têm número suficiente de técnicos treinados, mesmo em São Paulo, o Estado melhor aparelhado.
Segundo a Vigilância Sanitária, o sangue fora de controle é processado por bancos privados, não conveniados ao SUS. Entre os dez maiores bancos de sangue ou hemocentros, nove são da rede pública ou ligados a ela. O único privado desse grupo, o Instituto Santa Catarina, do Rio de Janeiro, é conveniado ao SUS -portanto, também é controlado.
O maior número de coletas é feito pela Hemorrede, da Secretaria da Saúde de São Paulo, que serve os hospitais do interior do Estado. Em segundo lugar está a Fundação Pró-Sangue Hemocentro.
Para Helio Moraes, o novo coordenador de Sangue e Hemoderivados do ministério, um dos maiores problemas do país hoje é o abastecimento de sangue, que está ligado à distribuição.
"A questão é fazer o sangue de qualidade chegar à ponta, às pequenas cidades."
(AURELIANO BIANCARELLI e BETINA BERNARDES)

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