São Paulo, quinta-feira, 9 de outubro de 1997 |
Próximo Texto |
Índice
Escreveu 'Matadores' e foi ao cinema
DENISE MOTA
Marçal Aquino, criador da situação descrita acima, é autor do conto "Matadores", em que se baseia filme homônimo de Beto Brant (em cartaz em São Paulo). O escritor também é autor da história de "Ação entre Amigos", próximo longa de Brant, e agora prepara a novela "O Invasor", que, no final do ano, poderá dar origem a mais um filme do cineasta. Em "Matadores", último texto do livro "Miss Danúbio", Marçal Aquino descreve o conflito enfrentado por um assassino profissional nos momentos que antecedem a morte de um homem -seja ele um desconhecido ou o próprio parceiro. Os personagens de Aquino, nem bons nem maus, apenas reagem a situações-limite. "Para nosso conforto, pensamos que as pessoas são planas, mas elas são ambíguas, são multifacetadas", diz. O escritor criou seus personagens com base na experiência com pistoleiros reais, tirada da carreira jornalística. "Uma vez, entrevistei um justiceiro que tinha nas costas 20 ou 30 mortes. Fui pensando: 'Deve ter pinta de matador'. Cheguei lá, era um cara de chinelo, franzino, que tinha, na ótica dele, uma justificativa para todas as mortes." A princípio, "Matadores" era uma novela "construída como um dominó", segundo o escritor, com um capítulo esclarecendo aspectos do episódio anterior. A história ficou inacabada, porque Aquino parou no meio para cuidar de "Fomes de Setembro", livro de contos vencedor da 5ª Bienal Nestlé de Literatura, em 91. Foi por essa época que Beto Brant e Aquino se conheceram, por meio de "Onze Jantares", conto do escritor presente em "Fomes de Setembro", que Brant pretendia transformar em curta. Coincidentemente, o cineasta havia rodado o curta "Dov'e Meneghetti?", que se passa em Amparo, cidade natal de Aquino. "Isso estimulou nossa amizade, e quando ele quis fazer um longa, eu mostrei 'Matadores', inacabado." Veracidade Após ter realizado cinco versões para o roteiro, o escritor diz estar satisfeito com o resultado do filme. "Fizemos um final corajoso, anticlimático, mas verossímil." A fidelidade a possibilidades reais é a principal preocupação do autor, que vai buscar os habitantes de seu mundo em conversas de rua e em bares. Foi numa conversa de bar, aliás, que Aquino contou a Brant uma idéia sua que se tornaria o roteiro do segundo longa do diretor, "Ação entre Amigos". Foi devido a bares também que o escritor adquiriu uma pancreatite. "É impossível ir a bares e não beber." Em sua descrição da realidade, a violência é outro elemento recorrente. "Na minha visão, o mundo é um lugar violento. E não falo necessariamente da violência policialesca, mas da violência das relações humanas." LEIA MAIS sobre Marçal Aquino à pág. 5-3 Próximo Texto: Coluna Joyce Pascowitch Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |