São Paulo, quinta-feira, 9 de outubro de 1997
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Prisão pode matar Papon, diz advogado

MARIANE COMPARATO
DE PARIS

O início do julgamento, ontem em Bordeaux (sudoeste da França), de Maurice Papon, acusado de crimes contra a humanidade, foi marcado pelos pedidos insistentes da defesa por liberdade. Segundo o advogado de Papon, Jean-Marc Varaut, mantê-lo detido nas atuais condições pode significar a morte de seu cliente.
Varaut descreveu a cela em que o ex-funcionário de Vichy está preso de "arcaica". Segundo o advogado, os 10 m2 nos quais ficou confinado Papon de anteontem para ontem não permitem os tratamentos médicos adequados. Varaut disse também que seu cliente dormiu apenas três horas porque os outros prisioneiros ficaram insultando-o durante a noite.
O acusado, 87, foi submetido, no ano passado, a uma cirurgia para colocar três pontes de safena.
"Nada foi feito para melhorar as condições do mais velho prisioneiro do mundo", disse Varaut.
A corte que conduz o julgamento de Papon designou dois peritos médicos para avaliar as condições do acusado. Papon pode permanecer em um hospital durante os dois meses e meio previstos até que seja dada uma sentença.
O ex-secretário-geral da Prefeitura de Gironde, que compreende Bordeaux, é acusado de haver ordenado a prisão de mais de 1.500 judeus. Os detidos seriam depois deportados para campos de concentração, onde a maioria deles foi morta.
Papon ocupou o cargo de março de 1941 a agosto de 1944, sob o regime de Vichy, o governo francês instituído logo depois da invasão alemã em 1940 em meio à Segunda Guerra Mundial.
Contra a libertação
A promotoria defende, a princípio, a não concessão da liberdade argumentando que o acusado violou ordem judicial de não sair da França. Papon passou parte de suas férias de verão na Espanha.
A acusação, porém, sugeriu que pode concordar com a transferência de Papon para um hospital.
Papon se entregou anteontem antes do início de seu julgamento. As leis francesas determinam que os acusados de crimes graves permaneçam detidos enquanto durar o julgamento.
Especialistas jurídicos afirmaram que a libertação de Papon poderia significar que ele, mesmo que condenado à prisão perpétua (a pena máxima), permaneceria em liberdade durante o longo trâmite de uma apelação.
Cumprindo ordens
Papon se defende das acusações argumentando que, durante a Segunda Guerra Mundial, estava apenas obedecendo ordens. O ex-funcionário afirma que tentou limitar o número de vítimas entre os judeus.

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