São Paulo, sexta-feira, 10 de outubro de 1997
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Prédio é liberado próximo ao Ibirapuera

FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL

A CNLU (Comissão Normativa de Legislação Urbanística), da Secretaria Municipal do Planejamento, aprovou ontem um pacote de medidas que, na prática, vai permitir que sejam construídos prédios de mais de 20 andares em áreas residenciais ainda preservadas da cidade.
Um dos projetos aprovados pelo conselho da CNLU (que reúne representantes da prefeitura e de entidades não-governamentais, como o Instituto de Engenharia) fica na esquina da avenida República do Líbano com a rua Canário (veja quadro ao lado), em Moema (zona sudoeste de São Paulo), a poucos metros do parque Ibirapuera.
É um prédio residencial que terá 23 andares (cerca de 70 metros de altura), 276 apartamentos e cerca de 500 vagas na garagem. Mas, pelo zoneamento da região (Z-1), o imóvel poderia ter, no máximo, dez metros de altura.
Para fazer esse empreendimento, a incorporadora Inpar vai utilizar a Operação Urbana Faria Lima -mecanismo pelo qual o proprietário do terreno pode construir ou ampliar um imóvel ou implantar usos e atividades diferentes dos que determina a legislação do zoneamento, desde que pague uma contrapartida financeira.
Neste caso, a empresa terá de pagar à prefeitura cerca de R$ 2,6 milhões -valor que tem de ser aplicado em obras de infra-estrutura viária para beneficiar a região.
Segundo o vice-presidente da Sociedade de Amigos e Moradores do Jardim Luzitânia, o arquiteto Mário Lorenzetti, a aprovação dessa operação comprometerá a qualidade de vida, pois o prédio atrairá tráfego às ruas da área.
"Nem adianta entrar com ação contra a prefeitura porque eles fazem uma baderna com as leis que, no final das contas, permitem tudo o que lhes interessa", afirmou.
Ele ressalta que o edifício será construído a poucos metros do parque Ibirapuera. "A área do entorno do parque é uma região que não foi tombada até hoje por incompetência dos nossos governantes, mas que deve ser preservada contra empreendimentos desse porte", afirmou.
Pacotão
No pacote de ontem, os conselheiros da CNLU aprovaram também a construção de prédios na rua Pintassilgo e na esquina das ruas João Lourenço e Antônio Afonso, ambos na região.
Essas áreas estão dentro da zona de influência da avenida Nova Faria Lima, prolongada na gestão Paulo Maluf, e, por isso, a operação urbana pode ser realizada.
Nesses casos, a CNLU aprovou um potencial de construção igual a quatro vezes a área do terreno -o limite máximo permitido.
Na votação de ontem, foram aprovados mais de 25 projetos, alguns de operações interligadas -mecanismo semelhante à operação urbana, mas que pode ser feito em diversas áreas da cidade.
O secretário municipal do Planejamento, Gilberto Kassab, não respondeu aos telefonemas da Folha, na tarde de ontem, para comentar o assunto (leia texto nesta página).
"Votei contra"
Um dos membros do conselho da CNLU, que votou contra a aprovação das operações urbanas, mas que não quis se identificar por temer retaliações, afirmou que os edifícios vão comprometer o zoneamento das áreas.
"Esses prédios altos vão agredir a vizinhança. As operações urbanas até podem ser feitas, mas é preciso ter cuidado para não acabar com as poucas áreas residenciais que restam na cidade", disse.

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