São Paulo, sexta-feira, 10 de outubro de 1997
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Fapesp faz investimento em cítricos

Objetivo é combater praga

GILSON SCHARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

São Paulo pode perder a posição de maior parque produtivo de frutas cítricas do mundo se a praga da amarelinha continuar dizimando milhões de pés de laranja. Não existe ainda cura ou remédio para esse mal.
Com um olho nos prejuízos econômicos e sociais e outro no desenvolvimento da ciência aplicada no país, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) decidiu realizar o maior investimento de sua história: quase R$ 13 milhões para decifrar o código genético da praga que ameaça a citricultura paulista.
Segundo o Fundo Paulista de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), 34% dos pomares do Estado já estão contaminados. Há riscos da praga contagiar ainda o café e a ameixa.
A praga afeta principalmente as culturas do norte e noroeste paulista. Pelo menos 4,5 milhões de árvores estão em estado considerado "terminal". Ou seja, serão simplesmente destruídas.
Há duas ameaças simultâneas. A mais óbvia é a destruição direta por conta da praga. A outra, indireta, é a desistência dos produtores rurais.
O abandono da cultura reduz a taxa de renovação de plantas. Ficam as mais velhas e o sistema torna-se menos produtivo. Dezenas de produtores já abandonaram a laranja.
A decodificação genética da "Xylela fastidiosa" é o caminho para interromper, no médio prazo, a destruição dos pomares.
Os prejuízos calculados até agora chegam à casa dos US$ 145 milhões. Os prejuízos vêm da erradicação, da redução de safra e dos gastos para impedir que a praga se espalhe.
O Brasil divide com os Estados Unidos a posição de maior produtor mundial, com quase 35% do total (os EUA têm cerca de 18%). O resto está distribuído em mais de 100 países. No Brasil, o Estado de São Paulo concentra 82,9% da produção.
A Associação Brasileira de Exportadores de Cítricos registra nada menos que 20 mil estabelecimentos agrícolas cultivando laranja em 204 municípios paulistas. Incluindo a distribuição, processamento e logística, a laranja garante 400 mil empregos diretos e indiretos. Em área plantada, a laranja perde apenas para a cana-de-açúcar.
Quanto ao valor da produção, o Instituto de Economia Agrícola relata que na safra 94/95 os citros (laranja, limão e tangerina) representavam 13,7% ou R$ 951,5 milhões, sendo que só a laranja respondia por R$ 590 milhões.
A economia da laranja também faz parte da âncora cambial brasileira. Em 1996, as exportações de suco de laranja concentrado e sub-produtos trouxeram US$ 1,6 bilhão em divisas.
O Brasil responde atualmente por nada menos que 80% do suco negociado mundialmente.
Além do suco, o Estado de São Paulo exporta farelo de polpa cítrica. O produto é utilizado para alimentação animal e, nesse nicho, os paulistas estão em primeiro lugar entre os exportadores do mundo inteiro.
Os quase R$ 13 milhões que serão gastos em pesquisa no projeto da Fapesp, entretanto, não são a primeira tentativa de enfrentar a praga. Nos últimos dois anos já foram gastos US$ 4 milhões em pesquisas, envolvendo contatos com universidades e institutos de pesquisa dos EUA, Espanha, França e Argentina. Pelo menos 100 trabalhos de pesquisa já vêm sendo realizados nos laboratórios da Fundecitrus.
Mas o impacto econômico do projeto genoma não se restringe à citricultura. O tamanho do empreendimento já garante uma verdadeira revolução no mundo acadêmico brasileiro.
A Fapesp está implementando uma política de aproximação entre o mercado e o mundo dos pesquisadores puros e aplicados.

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