São Paulo, sexta-feira, 10 de outubro de 1997
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Uma crítica para melhorar o nosso basquete

MIGUEL ANGELO DA LUZ
ESPECIAL PARA A FOLHA

Logo que o ex-presidente da Federação de Basquete do Rio de Janeiro Gerasime Bozikis, o Grego, assumiu a Confederação Brasileira de Basquete, tinha o compromisso de mudar certas coisas, pois foi um dos maiores críticos da administração passada.
Em 95, ele tentou até liderar um boicote carioca ao Campeonato Brasileiro porque queria mais participantes no torneio, principalmente do Rio de Janeiro. Mas o Flamengo não concordou.
O motivo era a crença de que o basquete do Rio de Janeiro estava em ascensão e não tinha o número de participantes que merecia no Brasileiro.
Fiquei surpreendido ao ver como será o primeiro Brasileiro sob sua gestão, em 98, com apenas 14 clubes.
No Rio de Janeiro, várias equipes, como Vasco, Botafogo e Fluminense, investiram, fecharam acordos com patrocinadores, com vista a ter nível para jogar o Brasileiro.
Com somente três vagas, e uma delas já definida para o Tijuca, há o risco de as equipes que não se classificarem perderem investimento de seus patrocinadores. Pois toda empresa quer aparecer em nível nacional, não só em um Estado.
Tem que se pensar que nós, do basquete, competimos diretamente com outro esporte de massa, que nos ultrapassou por causa das idéias avançadas: o vôlei. Porque eles pensam no futuro.
A equipe do Fluminense, por exemplo, vai jogar a próxima Superliga: foi convidada pela CBV. E é formada basicamente por juvenis que se destacaram na seleção brasileira. O que pode acontecer? O patrocinador verá que o vôlei consegue mais evidência em nível nacional e pode decidir cortar a verba do basquete.
Em São Paulo, Bauru, Jacareí, Santo André formaram grandes equipes, todas patrocinadas, na expectativa de estar no Brasileiro de basquete. E isso pode não acontecer.
O presidente Grego fala que este será o campeonato que terá a nata da nata do basquete brasileiro. Mas certamente não veremos isso. Haverá exclusão de times de melhor nível do que os participantes. O Londrina, que deve ser o campeão paranaense, por enquanto não tem patrocinador.
Há ainda o risco do desemprego: jogadores e comissão técnica de muitos clubes que não conseguirem contratos para participar do Brasileiro farão o quê durante seis meses?
Muito se fala em renovação, mas certamente o Brasileiro dará mais espaço para jogadores experientes. Os jovens talentos, se não mudarem de clube, vão ser esquecidos. Podem ficar desmotivados ou ter que conseguir um emprego, para ganhar dinheiro. E, assim, abandonar o basquete.
E tudo isso em um momento que nunca se falou tanto de basquete no Brasil, em jornais e nas TVs abertas ou fechadas.
A alternativa? Analisar cada caso individualmente, e as equipes que apresentarem nível técnico para disputar o Brasileiro têm que ser aceitas. Não apenas as melhores em seus Estados.
Espero que a CBB não veja essa crítica com rancor ou raiva, mas como algo que sirva para abrir os olhos, para refletir e fazer um basquete melhor.

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