São Paulo, sexta-feira, 10 de outubro de 1997
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Leia trecho de peça de Fo

- PAIIIEEEEÊ!
(Todas as nuvens se abrem correndo.)
- PAIIIEEEEÊ!
- Cheguei. O que é? Meu filho, o que aconteceu, por que você me chamou? O que lhe fizeram, menino?
- MMEEEEENHEEE... esse menino aí é ruim, quebrou todas as nossas estatuetas de barro, que nós tínhamos feito para brincar. Ele esmagou tudo com o seu cavalo... GUDUMM TAGADAM TUGUDUM. (Chora convulsivamente.)
- Querido, por uma bobagem dessas você tem que dar um susto tão grande no seu pai, hein? Que eu tive que chegar na pressa, voando, que eu estava do outro lado do universo... furei quase doze nuvens, atropelei dez querubins, entortei todo o triângulo! Agora será preciso uma eternidade para consertá-lo!
- Ele foi ruim, ele é o filho do patrão, ele tem tudo! Tem todos os brinquedos, mas quando viu que nós estávamos contentes, nos GROTUDUM, GUDUM, GUMGUM... (Chora.) quebrou tudo... AAAAIII (Chora.) e eu tinha trabalhado tanto...
- Péra aí, não entendi nada. Fala claro, respira e começa de novo. Do começo. Ouve o som dos anjos e começa de novo.
- Eu estava sozinho... chamei os meninos... Fora Palestina... Eu fico embaixo... Fora Palestina... Olha o passarinho de barro... Puxa, ele voa... Amado... beijinhos... Uma torta.... um cocozão... um gato... todos felizes... outro beijinho... Amado... Aí o filho do patrão... Fechem as janelas... Malvados... agora estou sozinho, como antes. Todos os meus amigos fugiram GUDUMMM... Tô com uma grande dor, pai, com uma grande dor.
- Você tem razão, filho... É realmente a pior das violências, e não há lugar nem no inferno para tipos assim. Mas tente entender, é apenas uma criança, querido... ele não entende!
- Ele estende sim. Ele é ruim por natureza. O grande perigo é deixá-lo ficar grande esse daí!
- Está bem, é preciso castigá-lo. Diz o castigo que você quer, hein?
(Jesus primeiro solta um suspiro de choro e com um tom o mais cândido e normal possível:)
- Mata ele!"

(extraído de "Mistério Bufo", de Dario Fo)

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