São Paulo, sexta-feira, 10 de outubro de 1997
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Zeffirelli enfraquece "Jane Eyre" de Brontë

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

"Jane Eyre", de Charlotte Brontë, é um romance de renegados, a quem o destino impõe provas contínuas. É descabeladamente romântico, audaciosamente pessoal, com imaginação quase demente.
Muito pouco disso tudo vai ser encontrado na adaptação de Franco Zeffirelli. A bem dizer, parece uma versão Disney do livro, tal o tratamento que o diretor impõe à trama e aos personagens.
Para começar, a história da órfã abandonada pela tutora não necessita de ênfase para comover. Mas o ponto de vista da produção não é esse, e o filme é entupido por uma música lacrimosa, feita para exacerbar os sentimentos.
Também os personagens são sacrificados. Destituídos de sua densidade pelo moedor de carne de Zeffirelli, formam um conjunto de mocinhos e bandidos, um bando de clichês visitados e revisitados.
Por fim, à força de espalhar ênfases desnecessárias pela narrativa, Zeffirelli falha justamente quando lhe é pedido fazer grande melodrama (exemplo mais claro: a cena do casamento frustrado é fria).
O que há de revoltante no cinema de Zeffirelli, há muito tempo, é o calculismo quase doentio com que trabalha. Ele pode criar o ambiente do século 19 inglês com muito mais facilidade do que quase todos os cineastas ingleses (ou chineses) que têm abordado o período. Tem desenvoltura, em suma.
Charlotte tem personalidade à altura da personagem. Como não faz o modelo garota bonitinha, essas virtudes são ainda mais necessárias, já que não é senão pela força que Jane Eyre desperta o interesse do endurecido Rochester (William Hurt). Mas são essas virtudes, resumidas pela palavra caráter, que levam a personagem e a atriz a destoar estridentemente do conjunto do filme.

Filme: Jane Eyre - Encontro com o Amor
Produção: Inglaterra/França/Itália, 1994
Direção: Franco Zeffirelli
Com: William Hurt, Anna Paquin, Charlotte Gainsbourg
Quando: a partir de hoje, nos cines Metrópole, Astor e circuito

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