São Paulo, sábado, 11 de outubro de 1997
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Bourbon vira cabaré

CASSIANO ELEK MACHADO
DA REDAÇÃO

A primeira noite do Free Jazz terminou em ritmo de antropofagia jazzística. Em uma apresentação de duas horas, a cantora norte-americana Dee Dee Bridgewater devorou a platéia do Bourbon Street e se deixou ser devorada.
Bridgewater não deixou nenhuma outra opção para o público de seu show. Subiu ao palco sem luvas de diva, mas com todos os truques que uma diva deve ter nas luvas.
A dominação foi rápida. Uma após outra, canções do repertório de Ella Fitzgerald foram sacadas da garganta da artista.
E Bridgewater não se limitou a entregá-las nas orelhas do público. Vestiu em cada uma delas a sua especialidade, uma dose maciça de improvisação vocal.
Por vezes, Dee Dee chegou até a improvisar sobre seus improvisos, perdendo o elo magnético com a platéia. Na desértica "Caravan", de Duke Ellington, por exemplo, criou mais corcundas do que um camelo e um dromedário juntos poderiam comportar.
Mas com o domínio de palco, que Bridgewater desenvolveu atuando em musicais como "Cabaret" (que lhe rendeu o Prêmio Tony, o Oscar teatral), mostrou que o show não pode parar.
Em alguns momentos o Bourbon também virou um cabaré. A estrela tirou os sapatos de salto alto, abanou sua saia de seda para amenizar o calor e brincou com a platéia -sem perder a majestade.
Depois de entrar em um tom acima ao do pianista que lhe acompanhava, Dee Dee aproveitou as risadas e disse que estava maravilhada com um lugar que havia descoberto em São Paulo, o bar Avenida.
Além de canções que foram do repertório de Ella, também apresentou temas do lendário pianista Horace Silver, para quem Dee Dee gravou um ótimo disco-tributo em 1995 ("Love and Peace").
Depois de cantar "Song for My Father", de Silver, que ela conduziu do hard bop a uma batida semelhante ao reggae, Bridgewater atacou com uma das grandes performances da noite.
Em "Mack the Knife" dialogou com cada um dos instrumentos (estava acompanhada por um trio francês de baixo, bateria e piano), fez caretas, voz de criança e ganhou aplausos de pé.
Antes de terminar, com interpretação apoteótica de "Love for Sale", disse: "Eu nunca fiquei tão entusiasmada na minha vida como em São Paulo".
(CEM)

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