São Paulo, sábado, 11 de outubro de 1997
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Elenko traz "Um Certo Faroeste Caboclo"

LUÍS PEREZ
DA REDAÇÃO

João de Santo Cristo perdeu o pai, um sem-terra, num conflito em Conceição do Araguaia (PA). Seguiu então para Brasília, onde quis se tornar roqueiro, mas virou um misto de traficante e "santo" -chegou a chefiar uma gangue da capital federal. Seu fim é trágico.
A história é familiar, sobretudo para os fãs de Renato Russo, líder da banda brasiliense Legião Urbana, e cuja morte em decorrência da Aids completa um ano hoje.
Uma de suas mais famosas canções vai virar a ópera-rock, "Um Certo Faroeste Caboclo", baseada totalmente na música, que dura quase dez minutos.
Política, rock, drogas, amores e adolescência se misturam na história. Sob direção do ex-Mulheres Negras Maurício Pereira, a parte musical do espetáculo inclui banda de cinco músicos e composições próprias.
Feitas, aliás, justamente pelo "vilão" da história, o ator Eliseu Paranhos, que interpreta Jeremias.
Segundo Paranhos, as músicas foram inspiradas em canções de Renato Russo e Cazuza, que também morreu, em julho de 1990, vítima da Aids. Uma das letras diz: "Volta, cara/Também sou mala/Não sou escroto/Vou atrás de ti até no esgoto".
Segundo Paranhos, a idéia é que todos cantem com a banda. Não estão nos planos do elenco usar músicas da Legião, mas sim fazer referências a elas.
"É uma homenagem ao Renato Russo", diz Paulo Faria, 32, autor da peça. Ele concluiu o texto dois dias após a morte do ídolo.
"Ainda não fizemos contato com os outros membros da banda. Mas, de qualquer forma, pretendemos reverter parte da bilheteria para as vítimas da Aids", conta.
Faria afirma que a peça se destina aos adolescentes. Para ele, há poucas opções de peças dirigidas especialmente a esse público.
Ainda na fase de ensaios, o espetáculo deve estrear no dia 19 de novembro, no recém-inaugurado Centro Cultural Elenko (rua Cardeal Arcoverde, 2.978, Pinheiros, zona sudoeste de São Paulo, tel. 011/870-2153).
Devem ser feitas sessões semanais às quartas e quintas-feiras, às 16h, e às sextas, às 24h. A previsão é ficar em cartaz em São Paulo por cerca de seis meses.
Além dos dez atores no palco e da banda, a produção inclui projeções em telão de cenas do Brasil e "flashbacks". Há várias cenas assim, referentes a Santo Cristo, que sempre se lembra de momentos marcantes de sua vida.
Chegando a Brasília, como na música, João vira aprendiz de carpinteiro e encontra Pablo, um traficante de renome.
No final, morrem ele e Maria Lúcia. Citações à sociedade brasiliense não faltam -fala-se desde sobre o índio Galdino, morto queimado por adolescentes, até Chicão Brígido, deputado federal acusado de alugar o próprio mandato.
"Há um certo realismo fantástico na hora e meia de peça", diz Faria, que tentou aproximar a trama ao máximo de situações reais.
Curiosamente, faz o contrário de Russo. "Na letra de 'Eduardo e Mônica', o Renato viajou totalmente na letra", conta Geraldinho Vieira, 38, jornalista e amigo do cantor. A Mônica da canção seria uma ex-mulher do próprio Vieira.

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