São Paulo, domingo, 12 de outubro de 1997
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Crimes aumentam com crise da polícia

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os índices de criminalidade na Grande São Paulo explodiram depois da crise que envolveu a Polícia Militar no rastro do caso da favela Naval e da proposta de reforma da polícia.
Em 31 de março deste ano, a Rede Globo divulgou um vídeo que mostrava cenas de tortura, extorsão e uma morte nessa favela em Diadema, na Grande São Paulo.
Desde então, o número de roubos, furtos e furto e roubo de veículos está em ascensão. Veja:
. A média mensal de roubos neste ano (8.349) é a maior desde que esse tipo de crime é contabilizado, em 1984. Em setembro, a polícia registrou 9.045 roubos ou 301 por dia. Em março, antes de Diadema, eram 7.418 (247 ao dia). O crescimento foi de 22%. Nos 12 meses que antecederam Diadema, o aumento foi de 4,5%.
. O número de furto e roubo de veículos saltou 15,3% entre março e setembro. Nos 12 meses anteriores, o número caiu 14,1%.
. Homicídios estão em queda (13,3%), mas a média mensal em 1997 é a segunda maior da história.
. O número de furtos, pós-Diadema, aumentou 15,5%.
Paralisia
Não há exatamente uma relação de causa e efeito entre aumento de criminalidade e a crise da polícia, mas quatro oficiais ouvidos pela Folha, que preferem não ter seus nomes revelados, dizem que o caso de Diadema causou uma paralisia na polícia.
Foi a pior das combinações, segundo um coronel. O caso da favela Naval, no qual um PM é acusado de matar o o conferente Mário José Josino, prostou soldados e cabos, a linha de frente da polícia nas ruas. E a proposta do governador Mário Covas, que reduzia a PM a uma tropa de choque e transferia o policiamento preventivo para a Polícia Civil, paralisou oficiais, o cérebro da corporação.
"É quase impossível a polícia manter-se na normalidade diante da ameaça de extinção. Não chegamos a parar, mas houve um choque e ficamos meio perdidos", diz outro coronel.
O governador Mário Covas chegou a reclamar mais de uma vez que estaria sofrendo um boicote por parte da PM.
"Má vontade"
O secretário de Segurança, José Afonso da Silva, prefere falar em "má vontade". "Havia policiais nas ruas, mas eles não estavam atuando." Segundo ele, não é possível culpar só a polícia pelo aumento de roubos. "Mas roubo e furto da maneira como estava ocorrendo, nas ruas, é falta de prevenção policial."
O atual comandante da Polícia Militar, coronel Carlos Alberto de Camargo, diz que o episódio de Diadema pode ter contribuído para o aumento da criminalidade.
"Auto-estima em baixa gera baixa produtividade. Isso ocorreu com Diadema e está sendo revertido", diz. Para ele, a paralisia não foi intencional -foi consequência de Diadema. Uma de suas prioridades é elevar o moral da tropa.
O ex-comandante da PM, coronel Claudionor Lisboa, demitido em setembro pelo secretário de Segurança, concorda que Diadema prostou a polícia, mas não admite a hipótese de que houve uma conspiração contra o governador: "Conspiração não faz parte do meu universo de honradez".

LEIA MAIS sobre criminalidade às págs. 2 e 3

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