São Paulo, domingo, 12 de outubro de 1997
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Ciúmes estão por trás de dossiê, diz Chamone

DA REPORTAGEM LOCAL

Para Dalton Chamone, "ciúmes" e "interesses" estão por trás do dossiê que o acusa de corrupção e da decisão de afastá-lo do ministério. O prestígio de sua Fundação Pró-Sangue, associado ao cargo que ocupava em Brasília, tornavam-no o homem forte do sangue no país.
Sobre acusações de que estaria legislando em causa própria e de amigos, Chamone diz que sua preocupação é com a "qualidade do sangue". "Nunca classifiquei nem desclassifiquei empresa alguma, como afirmam", disse na quinta-feira. "Eu apenas fornecia os pareceres técnicos que me eram solicitados."
A quem o critica por ter apelado à Procuradoria da República quando deveria ter alertado o Ministério da Saúde, Chamone diz que tentou fazer isso durante meses. "Mais de uma vez alertei a Vigilância Sanitária para o risco de paralisar as inspeções nos bancos de sangue", diz. A ata de uma reunião de julho passado mostra que Chamone foi a Brasília alertar o alto escalão da Vigilância Sanitária sobre essa paralisação.
"Em julho eu estive com o Gabriel Schimunis, da Organização Pan-Americana da Saúde, e ele me mostrou dados alarmantes", diz Chamone. Um levantamento que comparava o número de bolsas de sangue com o número de kits sorológicos utilizados pelos bancos mostrava que muitos deles não faziam testes ou faziam em "pool", misturando várias bolsas.
"Em 21 de agosto, levei esses dados para o ministro. Ele me cumprimentou e pediu cópias dos documentos. Como ninguém fez nada, decidi procurar o Ministério Público."
Ao deixar o cargo, na semana passada, Chamone diz ter alertado novamente o ministro sobre os riscos de um medicamento coagulante que continua sendo distribuído pela rede pública.
Ele diz que deixou seu posto com uma mágoa. "Quando o dossiê anônimo chegou às minhas mãos, eu fui à Brasília explicar item por item", diz. "A imprensa voltou a falar do dossiê e o ministério não se manifesta."

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