São Paulo, domingo, 12 de outubro de 1997
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DNA amplia conhecimento sobre ancestrais humanos

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

A revista "Cell" de 11 de agosto último publicou artigo muito importante sobre as origens humanas. Tão importante que alguns especialistas comparam o feito nele referido com o pouso recente em Marte.
O feito é a identificação de segmento do DNA -a matéria-prima do gene- em osso de um fóssil neandertal encontrado por duas equipes separadas que, todavia, realizaram o trabalho em conjunto.
Uma das equipes é constituída por Svante Pããbo e Mathias Kring, da Universidade de Munique, na Alemanha. A outra é integrada por Anne Stone e Mark Stoneking, da Universidade Estadual da Pensilvânia, nos Estados Unidos.
Embora não constitua prova decisiva uma sequência isolada de um só indivíduo, a técnica utilizada foi tão perfeita que os cientistas têm considerado como verdadeira a amostra identificada, e também como sendo capaz de provar que os neandertais não eram ancestrais do homem moderno, mas apenas um ramo lateral da família humana, um fim de linha afinal.
O fóssil foi encontrado em 1856 e naquela época despertou inúmeros debates sobre aquelas populações pré-históricas. Agora, com a descoberta do DNA antigo, os debates deverão ser reabertos, especialmente sobre as hipóteses que ela enseja.
Também surgirão novas tentativas de descobertas semelhantes de DNA alegadamente antigo. A emergente ciência do DNA antigo tem tido muitos cultores. Mas, ao mesmo tempo, exageradas alegações (como o DNA de dinossauros) de semelhantes encontros a têm desacreditado. O DNA ora achado em fóssil de 30 mil a 100 mil anos sem dúvida restabelecerá o prestígio perdido. Será muito difícil duplicar o trabalho de Pããbo por muitas razões, entre as quais as enormes dificuldades técnicas. Mas os defensores das teorias sugeridas pela nova descoberta estão jubilosos com o renascimento de suas idéias.
Um desses felizes pesquisadores é Christopher Stringer, do Museu Nacional de História Natural, de Londres, no Reino Unido, que encontra nos novos dados as provas da teoria que defende dos inícios humanos com a teoria que vem sendo chamada "out of Africa".
Segundo essa teoria, os modernos humanos surgiram recentemente na África e foram substituindo outras populações em todo o mundo, inclusive os neandertais europeus, sem todavia se misturarem com aquelas populações.
À teoria do "out of Africa", franca favorita, se opõe aquela que sustenta que os modernos humanos evolveram continuamente em vários pontos do globo. Essa teoria é a da continuidade regional.
Outra idéia suportada pelas novas descobertas é a de que os neandertais evoluíram independentemente dos modernos humanos, assim como os chimpanzés e semelhantes.

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