São Paulo, domingo, 12 de outubro de 1997
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Magnata da imprensa rejeita lei de censura

The Independent
de Londres

ROBERT MILLIKEN
EM SYDNEY

Na terça-feira passada Rupert Murdoch rompeu o silêncio que vinha mantendo sobre a questão dos paparazzi, dos jornais tablóides e da perseguição movida pela imprensa à princesa Diana. Disse que é contra a adoção de leis mais rígidas de proteção à privacidade.
Murdoch avisou que pretende combater qualquer iniciativa possível a ser tomada no Reino Unido ou em qualquer dos países onde opera para introduzir leis de proteção à privacidade das pessoas contra o assédio da mídia. "As leis de privacidade servem para proteger pessoas que já são privilegiadas", disse.
Ele também deu a impressão de apoiar aqueles que, na esteira da morte de Diana, vêm argumentando que ela fez uso da mídia, especialmente dos fotógrafos, tanto quanto foi usada por ela. Previu a chegada de uma nova fase em que os jornais britânicos se mostrarão mais contidos e expressou alívio pelo fato de que publishers como ele serão poupados da despesa de pagar caro por fotos de paparazzi que, em sua opinião, são vendidas a preços exagerados.
O homem cujo império de jornais, televisões e cinema cobre todos os continentes lançou seu ataque aos defensores das leis de privacidade na Austrália, onde seu império começou e que ainda abriga a sede da News Corporation. Num discurso proferido na reunião anual dos acionistas da empresa, Murdoch, que é o presidente, não citou a discussão sobre ética na mídia e o papel desempenhado por jornais tablóides tais como o "The Sun" (seu título mais lucrativo) que vem sendo travada desde a morte de Diana.
Confrontado por jornalistas depois da reunião, Murdoch se defendeu das perguntas sobre privacidade, acusando alguns de seus concorrentes tablóides de tratarem a questão com hipocrisia. "O primeiro a dizer que não compra fotos de paparazzi foi o 'The Daily Mail"', disse. "Acontece que, 24 horas antes de dar a declaração, ele estava comprando fotos de paparazzi, juntamente conosco."
Mas Murdoch reconheceu que alguma coisa deverá mudar no tratamento dado pela imprensa britânica à família real e a outras pessoas famosas. "Acho que veremos todos os jornais britânicos agindo de maneira muito mais comedida. E acho que veremos um código de ética mais forte e mais bem policiado." Murdoch se dissociou das acusações feitas pelo conde Spencer, irmão de Diana, de que jornais como os dele haviam perseguido Diana até levá-la à morte. "Não quero me eximir de qualquer responsabilidade, mas eu diria com certeza que não fomos nós que cometemos as piores ofensas, e que Diana, que todos nós tínhamos no mais alto respeito, geralmente trabalhava com os fotógrafos de maneira satisfatória para ela."
Indagado se estava arrependido por haver comprado fotos indiscretas de Diana para seus jornais e, desse modo, haver fortalecido a posição dos paparazzi, Murdoch procurou minimizar a seriedade da questão. "Acho que os jornais pagaram caro demais pelas fotos. Se pudermos nos livrar dessa turma, vamos fazer uma economia importante de custos." A resposta foi interpretada como referência aos paparazzi, não aos editores que compraram suas fotos.
Murdoch pediu cautela àqueles para quem a solução é endurecer as leis de privacidade. "Quando se entra nessa questão das leis de privacidade é para ver se podemos conferir novos privilégios aos que já são privilegiados", disse ele.

Tradução de Clara Allain

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