São Paulo, domingo, 12 de outubro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Não jogue no telhado

IZABELA MOI

USP faz primeira campanha de doação de dentes-de-leite
Quando Fernanda, 7, começou a ter problemas com sua dentição, estava com apenas dois anos e meio. A mãe, Nádia Ribeiro de Oliveira, conta que os dentinhos começaram a ficar amarelos e descalcificados. Ela tinha cárie de mamadeira, provocada pelo açúcar no leite.
"Os dentistas não queriam atendê-la porque a consideravam muito nova, mas ela sentia dores. Quando os dentes começaram a cair, ela não conseguia mais mastigar ou falar direito. Sua boca ficou deformada", lembra Nádia.
Depois de passar por vários dentistas, a pequena Fernanda acabou chegando até José Carlos Imparato. Aos 4 anos, ela teve 15 dentes "transplantados", recuperou a mastigação e voltou a falar normalmente. O transplante só foi possível porque existia o banco de dentes-de-leite.
"O caso da Fernanda é único no mundo. O que fizemos foi colar dentes disponíveis no banco sobre a raiz dos dentes originais", explica Imparato. Fernanda hoje já teve até alguns dentes substituídos pelos permanentes.
Imparato e Danilo Duarte, ambos pesquisadores e doutorandos em odontopediatria na USP, idealizaram e coordenam a primeira campanha para doação de dentes-de-leite.
"O banco de dentes-de-leite é coordenado por Antônio Carlos Guedes Pinto, professor de odontopediatria da USP, e funciona desde 90. O objetivo da campanha é informar as pessoas e divulgar nosso trabalho entre os profissionais", explica Imparato.
"Com os dentes-de-leite, desenvolvemos pesquisa sobre resistência de materiais para restauração, transplantes -ou restaurações biológicas- e construímos próteses móveis, para crianças que perderam seus dentes muito cedo e precisam manter um espaço para a chegada dos permanentes."
A campanha quer também acabar com preconceitos. "Os dentes são órgãos e não podemos desperdiçá-los", diz. Os organizadores da campanha descartam qualquer alusão a perigo de infecção (todos os dentes são esterilizados) ou rejeição de dentes "transplantados".
O banco aceita todos os dentes, mesmo aqueles considerados estragados, com ou sem restauração, e as doações podem ser feitas por correio ou pessoalmente. Por carta, basta colocar dentro do envelope o dente com nome da criança doadora, idade e endereço. O doador receberá depois, também por correio, a carteirinha de sócio do Clube do Banco de Dentes.
O mais importante é lembrar que o fato de dentes-de-leite não serem "permanentes", não significa que não sejam úteis. "Os dentes-de-leite são responsáveis por funções essenciais para o desenvolvimento da criança".

ONDE ENCONTRAR Banco de Doação de Dentes-de-Leite, Disciplina de Odontopediatria: av. Prof. Lineu Prestes, 2.227, Cidade Universitária, região sudoeste, tel. 818-7814 ou 818-7835.

Texto Anterior: Seu filho é hiperativo?
Próximo Texto: Frankeinstein, em versão brasileira
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.