São Paulo, segunda-feira, 13 de outubro de 1997
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Carla Perez é a Spice Girl brasileira

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
ESPECIAL PARA A FOLHA

Numa resenha para a Ilustrada no fim dos anos 80, o jornalista Thales de Menezes (o mesmo que assina a entrevista com Peter Hook aí em cima nesta página) escreveu que Guilherme Arantes era "genial".
O texto provocou revolta na Redação. Gente menos entusiasmada com o compositor de "Planeta Água" e "Coração Paulista" foi para cima do Thales:
"Se Guilherme Arantes é genial, Miles Davis é o quê?"
Não tenho certeza da resposta, mas poderia ter sido: "É outra coisa. É diferente".
Sempre lembro dessa história quando leio algo contra a proeminente Carla Perez e seu grupo É o Tchan.
Torceram o nariz quando eles fizeram mais sucesso em um festival de jazz na Suíça do que músicos abençoados pelo establishment cabeça/caetânico da MPB.
Ridicularizam a simplicidade rítmica da chamada "música da Bahia", disparam ironias contra as letras toscas.
Nada disso faz sentido.
"Rala o Tchan" (até onde sei, este é o nome da nova música deles) traz alguns achados trash na letra, como o verso "habib, olha o quibe!", além de não deixar ninguém parado.
Em sua libidinosa despretensão, isso é infinitamente melhor do que Carlinhos Brown, assim como Aerosmith é melhor do que David Byrne.
Como diz um amigo meu, Carlinhos Brown é para inglês ver. E É o Tchan é para brasileiro dançar.
No cenário pop de hoje, o paralelo mais imediato se dá com as docemente simples Spice Girls.
E "Escuta Aqui" lança já a candidatura de Carla Perez para o grupo de garotas inglesas, com amplo direito a reeleição.
Depois de Mel B e Mel C, Carla P para as Spice Girls!
*
Já que começamos esta coluna falando em genialidade, vale mencionar a recente entrevista para a revista inglesa "Q" de um dos maiores gênios do pop atual, Thom Yorke, do Radiohead.
Não se trata exatamente de um ser normal.
Entre outras maluquices, ele defende a tese de que, dentro de aviões, a qualidade do ar varia conforme a classe em que se está sentado.
Segundo o delírio de Yorke, a primeira classe respira ar puro, mas quem fica na econômica recebe pelas narinas um perigoso mix gasoso.
"'Airbag' trata da idéia de que sempre que você pega uma estrada, pode morrer (...) Sempre que entro num carro digo para mim mesmo que talvez eu nunca mais saia dele. Ou talvez até saia, mas aí não conseguiria mais andar."
OK, então.
*
Na semana passada, chamei erradamente o segundo álbum do Prodigy de "Songs for a Jilted Generation". O nome certo é "Music for the Jilted Generation".

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