São Paulo, segunda-feira, 13 de outubro de 1997
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Diálogo tenta superar séculos de conflito

SILVIA BITTENCOURT

especial para Folha, de Belfast
Belfast é palco, desde o mês passado, de um evento inédito na história da Irlanda do Norte.
Ali estão sendo realizadas, pela primeira vez desde o início deste século, negociações de paz que abrangem todos os grupos envolvidos no conflito, como o partido católico e republicano Sinn Fein, braço político do IRA, e o Partido Unionista do Ulster, o principal representante dos protestantes e monarquistas.
Ninguém acredita, porém, que as negociações cheguem a uma solução que agrade a todos.
Os católicos da Irlanda do Norte, minoritários na região, sentem-se discriminados pela maioria protestante. Eles querem o fim do domínio britânico sobre a Irlanda do Norte e a unificação dela com a vizinha República da Irlanda, no sul.
Os protestantes, de tendência monarquista, sentem-se mais britânicos que irlandeses e por isso defendem a continuidade da integração da Irlanda do Norte com o Reino Unido.
A guerra civil na Irlanda do Norte estourou em 1969, em Belfast, e já fez mais de 3.500 mortos em todo o Reino Unido.
Raízes históricas
As origens do conflito, porém, surgiram séculos atrás.
Protestantes e católicos lutam entre si desde o século 17, quando a rainha Elizabeth 1º, da Inglaterra, iniciou na Irlanda um processo conhecido como "plantação".
Ela enviou para o Ulster -como também é chamada a região que hoje compreende a Irlanda do Norte- 170 mil colonos protestantes, a maioria da Escócia.
"Plantados", eles deveriam assegurar a presença britânica no norte da Irlanda, para fazer frente à maioria católica no sul.
No século 19, a ilha da Irlanda foi integrada ao Reino Unido.
A exemplo da Inglaterra, o Ulster foi se industrializando e acabou sobrevivendo à maior tragédia da história da Irlanda, a Grande Fome (1845-1849).
Estima-se que 3 milhões de pessoas tenham morrido e mais de 1 milhão tenha deixado a Irlanda naquela época.
Divisão
Depois de muita luta por sua independência, a Irlanda acabou se dividindo em 1921. As partes do sul e do noroeste da ilha tornaram-se um Estado independente, que, anos mais tarde, viraria a República da Irlanda. O Ulster continuou parte do Reino Unido.
No final dos anos 60 e início dos 70, a hostilidade entre católicos e protestantes no Ulster acentuou-se de tal modo que o governo britânico suspendeu o Parlamento da Irlanda do Norte e mandou o Exército para controlar a região. Os soldados britânicos estão ali até hoje.

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