São Paulo, terça-feira, 14 de outubro de 1997 |
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Instituição do Rio trata moradores de rua infectados
ANNA LEE
Ela foi criada para recolher pacientes que passam pelo ambulatório do Banco da Providência (São Cristóvão, zona norte), que existe desde 1989. "Tratávamos dos pacientes durante o dia, mas à noite éramos obrigados a colocá-los na rua", disse Maria Inês Linhares, diretora da instituição. Linhares conseguiu com a arquidiocese parte da verba arrecadada pela Feira da Providência, realizada anualmente no Rio, para montar e manter a Casa Santo Antônio. "A casa virou uma espécie de hospital, já que não conseguíamos encaminhar as pessoas que passavam pelo ambulatório para hospitais públicos", disse Linhares. O ambulatório tem 11 mil pacientes cadastrados. Lá, são atendidas cem pessoas diariamente, por médicos, dentistas, psicólogos e assistentes sociais. A maioria presta serviço voluntário. Outros recebem três salários mínimos por mês. A Casa Santo Antônio tem apenas 45 leitos -30 para adultos e 15 para crianças. "Passei por uma triagem rigorosa e tive que esperar algum tempo por uma vaga. Mas o médico tinha me dito que a minha única chance de sobreviver seria vir para cá. Achei que valia a pena", disse Paulo José Silva, 50, que está na instituição há um mês. Silva vivia há dez anos com travestis que, segundo ele, "fazem a vida na pista da Glória (zona sul)". Ele disse que tem 2º grau completo e que trabalhava num banco à noite. Quando a mãe resolveu voltar para a Bahia, não teve condições de pagar sozinho o cômodo que dividia com ela. Começou a "frequentar a Glória" com amigos para ajudar nas despesas. Perdeu o emprego e foi definitivamente para a rua. "Descobri que podia viver de sucata. Além do dinheiro que ganhava na noite, vendia papel e alumínio", disse Silva. Ele também costumava revirar lixos de salões de beleza. "Sempre me preocupei com a aparência. Procurava restos de cremes e produtos para ficar mais bonito." Silva garantiu que nunca gostou de beber ou usar drogas. "No meio dos travestis sou considerado careta. Nunca exagerei, queria viver um pouco mais", disse. Júlio César de Araújo, 29, está na casa há dois anos e também quer "lutar pela vida". "Doença é uma palavra que não existe para mim. Deslizei na vida, mas não caí. Sei que vou recuperar minha saúde", disse. Araújo perdeu quase totalmente a visão em consequência da Aids. Ele disse que, com o tratamento, está se recuperando. "Estou feliz por estar podendo ver as cores e as formas", disse. Jones Santiago, 60, procurou a instituição há três anos, quando foi abandonado pela família. Texto Anterior: Sem-terra são alvo de campanha Próximo Texto: 'Aids é doença que pobre não pega', dizem doentes Índice |
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