São Paulo, terça-feira, 14 de outubro de 1997
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Navajas quer apenas fama de vencedor

JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Cinco títulos do Campeonato Paulista e três da Superliga. Todos conquistados pelo mesmo técnico, Ricardo Navajas, à frente da mesma equipe, o Report/Suzano.
O último deles, o Paulista, assegurado, em casa, anteontem, contra o Olympikus, encerrando em 2 a 1 a série final.
Navajas, 40, ex-levantador "muito ruim", que, como atleta, só passou por dois times -Mirambava, de Suzano, e Ferroviária, de Araraquara-, não teme o estigma de ser técnico de um time só.
"Quero que daqui uns anos as pessoas se lembrem de mim como um vencedor. Se eu ficar minha carreira inteira em Suzano, vou achar uma maravilha. Eu acho que, quanto melhor o nível do time, melhor você tem que ser."
Nervoso, falastrão e briguento, comanda um grupo estelar, no qual jogam os selecionáveis Max, Kid, Joel e Marcelo Elgarten, Vladimir Grbic, da iugoslava, e Rouslan Olikhver, da russa.
Afirma ter recebido apenas um convite para deixar a cidade (do Palmeiras em 94). E diz pensar na seleção brasileira "da mesma forma que todos os técnicos".
"Nunca me consultaram, nem trabalho em função disso. Trabalho no vôlei para me sustentar. Meu compromisso, hoje, é com o Suzano. Além do mais, a seleção está bem servida."
A seguir a entrevista que concedeu à Folha, antes de sua equipe estrear nos Jogos Abertos.
*
Folha - Como você começou a carreira de técnico?
Ricardo Navajas - Eu comecei praticamente por falta de técnico. Era um jogador e estava quase parando. Já tinha comando perante os jogadores, porque eu era formado (em Educação Física) e treinava o juvenil. Aí, a direção perguntou se eu não queria ser técnico do adulto, e eu fui.
Folha - Você é conhecido por exigir muitos dos atletas nos treinos e por ser temperamental. Não teve problemas por causa disso?
Navajas - Antes, eu agia só com a emoção. Sinto que agora consigo conciliar emoção com razão. Eu estou melhorando aos poucos. A gente vai ficando velho, amadurecendo. Personalidade é uma coisa difícil. Às vezes, tem um ou outro probleminha. Eu tive mais recompensa que problema. Há atletas que me agradecem. Eles dizem que por treinarem e serem cobrados conseguem melhorar na carreira.
Folha - Você sempre treinou o time de Suzano. Nunca recebeu convite de outra equipe?
Navajas - Eu fui uma vez consultado pelo Palmeiras, depois que o Renan (Dal Zotto, hoje técnico do Olympikus) deixou o time. Não houve possibilidade porque eu tinha contrato aqui.
Folha - Por que não recebeu convite de outras? Não teme ficar estigmatizado como técnico só do Report ou de ser vencedor por trabalhar com grandes jogadores?
Navajas - Nem imagino o motivo. Acho que devem pensar que eu ganho muito (risos).
Acho que todo mundo pensa que é difícil por eu ser da cidade, se dar bem com a direção do clube, com a prefeitura. Ser técnico do Suzano é um desafio. Nós somos muito cobrados por ser uma equipe de ponta. A pressão é muito grande. Eu acho que, quanto melhor o nível do time, melhor você tem que ser.
Folha - E seleção brasileira? Antes de o Radamés Lattari assumir seu nome era cogitado. Você pensa em dirigi-la?
Navajas - Eu não fui consultado. Nunca. Penso, como todos os técnicos, como um reconhecimento. Eu não trabalho com o objetivo de seleção. Trabalho para me sustentar. Já tem pessoas competentes trabalhando.
Folha - Você teve problemas com a comissão técnica da seleção por criticar a forma física de seus jogadores. Como está o relacionamento com o pessoal da seleção?
Navajas Não quero falar sobre isso. Está tudo resolvido.
Folha - Até a última temporada, você se envolvia diretamente nos assuntos administrativos. O Report contratou um profissional para cuidar disso. Você ainda se envolve nesse assunto?
Navajas - A comissão técnica participa de tudo. Eu fazia isso quando era jogador. Ia atrás de patrocínio, salário. Hoje, tento ajudar. Troco chuveiro, vou atrás de apartamento. Gosto de estar a par dos assuntos do time.
Folha - Que perfil o atleta deve ter para trabalhar com você?
Navajas - Tem que ser como o Marcelinho (Marcelo Elgarten, levantador). O que ele se compromete a fazer faz. Agora, o melhor com quem trabalhei é o Giovane. Ele é profissional, disciplinado. Eu e os jogadores como o Max aprendemos muito com ele.

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