São Paulo, terça-feira, 14 de outubro de 1997
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Portugal leva suas caravelas à Feira de livros de Frankfurt

JOSÉ GERALDO COUTO
ENVIADO ESPECIAL A FRANKFURT

A última flor do Lácio, inculta e bela, é o destaque da 49ª Feira do Livro de Frankfurt (Alemanha), que começa amanhã.
Além de 36 autores de Portugal, país-tema do evento, foram convidados escritores de língua portuguesa de outras cinco nações, entre eles o brasileiro João Ubaldo Ribeiro, o moçambicano Mia Couto e até o italiano Antonio Tabucchi, autor de "Noturno Indiano".
Mas a língua de Camões é apenas uma gota no oceano da feira. Até 20 de outubro, serão expostos em Frankfurt mais de 330 mil livros, por cerca de 9.000 expositores.
São esperados 320 mil visitantes, entre editores, livreiros, escritores, agentes literários, jornalistas e leitores em geral.
Entre os autores portugueses esperados, o destaque maior é para José Saramago, que lançará o romance "Todos os Nomes", publicado simultaneamente em Portugal, Brasil e Espanha.
Embora não esteja na lista oficial de convidados, o maior rival de Saramago nas disputas de prêmios internacionais, o também romancista António Lobo Antunes (de "Os Cus de Judas"), é tido como presença certa.
Estarão em Frankfurt também o ensaísta Eduardo Lourenço e o romancista José Cardoso Pires, além do ex-presidente de Portugal Mário Soares.
Fora do domínio lusófono, estarão em Frankfurt o peruano Mario Vargas Llosa, que apresenta seu "Os Cadernos de Don Rigoberto", e o britânico Timothy Garton Ash, que lança em alemão seu "The 'Romeo' Files", sobre o período que viveu, sob suspeita de espionagem, em Berlim Oriental.
A feira receberá também celebridades emergentes, como o britânico Simon Singh, autor do surpreendente best seller "O Último Teorema de Fermat" (a ser lançado aqui pela Record), que narra a saga dos matemáticos para resolver um problema apresentado há mais de 300 anos.
Outra estrela de ocasião é a indiana Adrundhati Roy, que estará lançando a edição alemã de seu "The God of Small Things", que a Companhia das Letras deve editar aqui em 98.
Acompanhando a tendência dos últimos anos, a literatura cede cada vez mais espaço à política e à chamada cultura de massas em Frankfurt.
Além dos já tradicionais "pontos de encontro" (ciclos de debates) Leste-Oeste e Norte-Sul, a feira deve abrigar este ano acaloradas discussões sobre a situação do Oriente Médio.
O palestino Edward Said apresentará seu livro "Paz no Oriente Médio?", enquanto, do lado de Israel, Amnon Kapeliuk falará sobre o seu "Rabin - Um Assassinato Político".
A cultura pop estará presente com Paul Williams, que discutirá seus dois livros sobre Bob Dylan, e com o cartunista Albert Uderzo, um dos criadores de "Asterix". Haverá ainda debates a respeito de livros sobre o compositor Neil Young e a banda de rock Nirvana.
Tudo isso sem falar das novas tecnologias de divulgação da palavra escrita, como o CD-ROM e a Internet, áreas de presença crescente na feira (leia ao lado).
Por fim, será repetida a experiência da Tenda de Leitura, iniciada no ano passado. Nos dias em que a feira é aberta ao público (sábado e domingo), autores lêem trechos de seus livros a uma platéia.
Desse modo, a Feira de Frankfurt -a maior e mais tradicional do mundo- procura fazer conviver os mais avançados meios eletrônicos com o costume antiquíssimo de compartilhar histórias em torno da fogueira. Ainda que, no caso, seja apenas uma fogueira de vaidades.

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