São Paulo, quarta-feira, 15 de outubro de 1997
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Covas quase desiste de comparecer a encontro com Clinton hoje em SP

LUÍS COSTA PINTO

LUÍS COSTA PINTO; ELIANE CANTANHÊDE
DA REPORTAGEM LOCAL

Governador diz ter estranhado não participar de organização de visita à cidade
ELIANE CANTANHÊDE
em São Paulo
Por pouco o governador de São Paulo, Mário Covas, não acrescenta mais um incidente diplomático à tumultuada visita do presidente Bill Clinton ao Brasil.
Covas ameaçou repetir o gesto do presidente do Supremo Tribunal Federal, Celso de Mello, e do governador do Distrito Federal, Cristovam Buarque, que se recusaram a cumprir agenda com Clinton.
Covas, entretanto, decidiu ir a pelo menos um encontro, hoje de manhã, no Memorial da América Latina, na Barra Funda (zona noroeste de São Paulo).
Acostumado a recepcionar autoridades estrangeiras, Covas estranhou o desprezo do cerimonial norte-americano, que alijou completamente o governo do Estado na organização da visita de Clinton à capital paulista.
"Demorei um pouco para decidir se iria ou não. Pensei, sinceramente, em não ir", disse Covas ontem à Folha.
Ele participa da visita de Bill e Hillary Clinton como mero convidado para a solenidade de hoje. Até ao lhe pedirem um discurso de saudação no Memorial, destacaram que teria de ser "breve".
Em linguagem de diplomata, isso significa falar menos de cinco minutos, como reclamou o governador. "Deu vontade de dizer apenas 'seja bem-vindo a São Paulo"', brincou.
O governador decidiu participar da solenidade organizada pela Câmara Norte-Americana de Comércio, no Memorial, "para evitar mais constrangimentos".
Ele, entretanto, não foi recepcionar o presidente dos EUA no aeroporto de Guarulhos, ontem à noite, nem pretende se despedir dele na porta do avião, quando embarcar para o Rio de Janeiro, hoje. Delegou essas tarefas ao vice-governador, Geraldo Alckmin.
As regras do cerimonial permitem que chefes de Estado ou governo sejam recepcionados e saudados pelo vice-governador em função das dificuldades de deslocamento em São Paulo, explicou um assessor do governador.
Sem consultas
Um fato em especial irritou o governador paulista: o cerimonial da Casa Branca não fez qualquer consulta à Secretaria da Educação nem ao governo do Estado para preparar a ida de Bill e Hillary Clinton a uma escola pública na periferia da capital.
A visita está marcada para hoje de manhã e a secretária estadual da Educação, Rose Neubauer, acha que a escola escolhida não era a mais indicada a mostrar ao casal norte-americano. Trata-se da Escola Antonio Manuel, no Jardim São Luís, zona sul de São Paulo.
"Eles escolheram a escola, avisaram a diretoria e nem sequer comunicaram a Secretaria da Educação. Normalmente não é assim que se faz. Sempre ajudamos. Não seria a primeira visita de chefe de Estado que receberíamos", desabafou Covas.
Ele lembra, por exemplo, que o imperador japonês, Akihito, esteve recentemente no Brasil e "foi extremamente simpático". Foi até assistir a um jogo de futebol no estádio do Morumbi.

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