São Paulo, quarta-feira, 15 de outubro de 1997 |
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48% dos pacientes do SUS são desnutridos
RODRIGO VERGARA
Em 12,4% dos pacientes analisados, a desnutrição constatada foi considerada grave. Os pesquisadores analisaram 4.000 pacientes em 25 hospitais de 13 Estados, entre maio e novembro do ano passado. Os resultados preliminares da pesquisa já haviam sido adiantados pela Folha. A dimensão da amostragem, que abrange quase 1% dos pacientes do SUS, faz da pesquisa a maior já realizada no mundo sobre o assunto, segundo Dan Waitzberg, presidente da SBNPE. O Pará foi o Estado com maior incidência de desnutrição. Ali, 78,8% dos pacientes analisados eram desnutridos, 29,4% dos quais, gravemente. A Bahia vem em seguida, com 76% de desnutridos. O quadro foi considerado grave em 33,7% dos pacientes. Mas o problema não se limita às regiões menos desenvolvidas do país. Em Minas Gerais, na região Sudeste, 54,4% dos pacientes analisados tinham alguma desnutrição. Em 20,5%, o problema era grave. Despreparo Segundo Maria Isabel, a desatenção à nutrição é tanta que a grande maioria dos pacientes analisados não tinha sido pesada e medida quando foi internada e muitos não o peso acompanhado. "Os médicos são ensinados a ficar preocupados com a doença e se esquecem que quem está doente, geralmente, não come, porque não tem apetite ou porque a doença impossibilita. E sem comer, ninguém vive." Waitzberg, presidente da SBNPE, diz que essa despreocupação já é um problema conceitual. "Ninguém se espanta ao ver um parente sair do hospital mais magro. Parece normal. Mas não é." Segundo Waitzberg, a SBNPE vai enviar nesta semana cópias da pesquisa para várias faculdades e universidade do país recomendando maior atenção às disciplinas de nutrição nos currículos dos cursos de saúde. Pagamento Os pesquisadores apontam ainda a falta de pagamento, por parte do SUS, de algumas terapias nutricionais. Segundo Daniel Magnoni, nutrólogo e diretor da SBNPE, o SUS não paga, por exemplo, pela nutrição enteral, administrada por sonda diretamente no estômago do paciente e indicada para quem não pode receber alimentos via oral. Atualmente, o SUS só paga pela nutrição parenteral, que é injetada diretamente na circulação sanguínea do paciente e indicada para pacientes com problemas digestivos, por exemplo. Segundo a pesquisadora Maria Isabel, essa situação acarreta distorções. Alguns médicos estariam prescrevendo nutrição parenteral (via venal) para pacientes que poderiam receber a enteral (por sonda), porque o SUS não cobre a primeira. Sobrecarga Os pesquisadores apontam ainda a falta de profissionais suficientes para adaptar as dietas e as refeições de cada paciente aos horários de exames e às carências alimentares de cada doente. "O hospital ainda não aprendeu a otimizar as dietas de acordo com os ritmos dos pacientes", diz Dan Waitzberg. Segundo o médico, é comum o paciente ficar em jejum por mais tempo que o necessário. Próximo Texto: Ministério não comenta Índice |
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