São Paulo, quarta-feira, 15 de outubro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Forças do progresso

Forças do progresso
ABRAM SZAJMAN
"Não dá para estancar as

ABRAM SZAJMAN

"Não dá para estancar as forças do progresso dentro da sociedade. O que vai parar é o Estado. O que acontece em várias unidades da Federação, hoje? Gastam tudo o que arrecadam com pessoal e previdência e o pouco que sobra com juros". Fernando Henrique Cardoso

Se acaso faltasse um embasamento teórico de sociologia aplicada para o movimento "Ação contra o aumento dos impostos. Participe ou pague", promovido a partir de São Paulo pelo mais amplo leque de entidades empresariais de todos os segmentos da economia, ele foi indicado pelo próprio sociólogo e presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, na citação em epígrafe, trecho de um depoimento a uma revista de circulação nacional.
É o presidente quem diz que, na ausência das reformas estruturais, o Estado que aí está gasta tudo o que arrecada na manutenção de sua própria máquina. E, completamos nós, como não consegue gastar menos, a lógica perversa desse mesmo Estado acaba sendo a de arrecadar mais a qualquer custo, seja por meio de novos impostos ou pelo aumento das alíquotas dos tributos já existentes.
Essa situação de empurrar a conta do desperdício e da ineficiência do Estado para o conjunto da sociedade não vai mudar de cima para baixo, e sim ao contrário, por meio da pressão legítima das forças progressistas mencionadas pelo presidente.
Em outras palavras, o Estado não se auto-reforma como gesto de compreensão e generosidade dos detentores do poder: sua reforma só pode ser consequência da força organizada daqueles que não suportam mais pagar um preço cada vez mais alto para nada, ou quase nada, em troca.
Nesse sentido, a ação dos empresários adquire até um sentido de autocrítica: foi preciso que a atividade empresarial ficasse quase inviabilizada pela inesgotável voracidade fiscal para que as lideranças, finalmente, decidissem agir em nome dos liderados para dizer um basta à maior carga fiscal relativa entre os países em desenvolvimento.
A questão é política e, como agentes políticos -com seus manifestos, faixas e bandeiras-, os empresários chegam com certo atraso à mesma arena onde já ocupam espaço tantos outros movimentos sociais. Mas chegam decididos a exercer sua influência, a fazer pressão, a exigir mudanças, como ocorreu no ato contra o aumento dos impostos organizado pelas entidades empresariais de São Paulo em 25 de setembro.
No momento em que vivemos, num país e no mundo em profundas transformações, é cada vez mais verdadeiro o ditado popular de que uma andorinha só não faz verão.
Nossa mobilização é pacífica, mas veemente. Não queremos a paralisia, muito menos o fim do Estado: queremos apenas que ele funcione a um custo menor para os contribuintes. Queremos regras de jogo estáveis no plano fiscal e tributário, para que possamos planejar investimentos produtivos, geradores de empregos.
Queremos reforma fiscal de verdade e não remendos com sabor de ocasião. Queremos dizer aos políticos e aos tecnocratas que a legitimidade do Estado para cobrar tributos se esvai na mesma medida em que essa cobrança torna-se arbitrária, escorchando empresas e cidadãos com uma versão atualizada da derrama dos tempos do Brasil-colônia.
Numa sociedade democrática, com a economia livre e aberta, as empresas são a força do progresso material, na produção e na distribuição de bens e de serviços. Cumprem agora os empresários seu papel de força do progresso social, mobilizando-se contra o retrocesso que representa para a economia e para o país o massacre tributário a que a nação vem sendo submetida.

Texto Anterior: No eixo; Outro bloco; Bit acelerado; De grão em grão; Nota sobre nota; A conferir; Sobrinho de peixe; Ponte aérea; Na escuta; Em expansão; Verão quente; Soando o alarme; Digerindo informação
Próximo Texto: "Disclosure" às avessas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.