São Paulo, quarta-feira, 15 de outubro de 1997
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Novo 'Verão do Amor' perde o espírito hippie

BIA ABRAMO
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM SAN FRANCISCO

Como se comemora um espírito? Os organizadores bem que tentaram abrir uma fenda espaço-temporal no 30º aniversário do Verão do Amor, mas o gigantesco inflável da cerveja Miller, uma das patrocinadoras do evento, não os deixou mentir. Estamos nos anos 90, aliás, já bem no fim deles, e a comemoração não passou de um agradável domingo no parque.
Todo o arsenal hippie estava lá: os cabelos longos, as barbas, os pés descalços, as batas indianas etc. Já o espírito de 67, aquela vibração misteriosa que fez milhares de jovens no mundo inteiro "caírem fora", não compareceu.
Ao longo de oito horas de discursos e shows, a borda leste do Golden Gate Park recebeu ex-hippies, pós-hippies, neo-hippies, anti-hippies, pais de família que foram hippies, hippies que viraram pais de família, filhos de hippies, netos de hippies e curiosos.
Até mesmo ídolos de gerações mais novas fizeram o possível para reviver o espírito. Jello Biafra, ex-líder da banda punk californiana Dead Kennedys, fez um discurso inflamado e demagógico pedindo a "descriminalização de todas as drogas e o corte total das verbas para fins militares", entre outras pérolas de pura e simples retórica.
Os shows também falharam na tarefa de produzir o transe que poderia transportar os anos 90 para os 60. Apesar de o programa anunciar "bandas lendárias" de San Francisco, os remanescentes do Grateful Dead não apareceram.
A atração da tarde ficou por conta de um Jefferson Starship frankestein, com membros de várias formações. Os clássicos foram aplaudidos, mesmo que sem autores originais, como a versão de "Purple Haze", de Jimi Hendrix, cometida pela The Narada Michael Walden Experience. Pouco sobrou para recuperar o espírito de 67. Provavelmente porque no fim do século não há mais como "cair fora": já fomos todos expulsos.

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