São Paulo, quarta-feira, 15 de outubro de 1997
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Obra do autor é acompanhada de rock

FÁBIO MASSARI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Chamá-lo de "enfant terrible" da moderna literatura irlandesa talvez diga tanto a seu respeito quanto dizer que se trata de um dos mais cobiçados e completos autores dessa literatura.
É vago, mas procede. Também podemos dizer que Patrick McCabe, que chega ao Brasil para o lançamento de seu maior sucesso, "The Butcher Boy" (em português, "Nó da Garganta"), de 92, é um dos mais delirantes autores da ficção irlandesa atual.
Nascido em 1955 na cidadezinha de Clones, na região de Monaghan, ao norte da República da Irlanda, McCabe passou por Londres, como professor, antes de se fixar em Dublin.
Em 85, publica uma história infantil, "The Adventures Of Shay Mouse", e, em 86, "Music On Clinton Street". Mas é a partir de "Carn", de 89, que McCabe começa a colocar as mangas de fora, literalmente assombrando a concorrência. E o público.
Emulando acidamente o "stream of consciousness" joyciano, temperando de maneira cáustica, mordaz, sua narrativa precisa, recortada por elipses malucas, "flashbacks" vertiginosos e marcada por cacografias que refletem a riqueza e a idiossincrasia dos dialetos locais, sem contar o humor malsão que emana de suas tiradas impiedosas, McCabe vem forjando um estilo radicalmente pessoal, com poucos pares dentre seus colegas de trabalho.
Aquelas que poderiam ser consideradas suas obsessões temáticas, como a suplantação da cultura tradicional da cidade do interior pela avassaladora "modernização" dos costumes, ou as políticas da religião (ou vice-versa) como geradoras de conflitos orgânicos, servem como moldura para que McCabe trace retratos incômodos, verdadeiros em todo seu surrealismo, da sociedade irlandesa.
E, como se não bastasse, sua literatura vem invariavelmente acompanhada de boa música.
A parceria com Gavin Friday deve dar em disco do tipo "spoken word". E ele acaba de chegar ao cinema, depois de passar pelo teatro, com seu "The Butcher Boy".
Parece que, em se tratando de Patrick McCabe, o lema é compre o disco, veja o filme e, claro, leia os livros.

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