São Paulo, quarta-feira, 15 de outubro de 1997
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Rebeldes tomam palácio no Congo

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Tropas do ex-presidente marxista Denis Sassou Nguesso conquistaram ontem o palácio presidencial e o aeroporto internacional de Brazzaville, praticamente consolidando seu domínio sobre a capital da República Popular do Congo, após mais de quatro meses de conflitos contra as forças do presidente Pascal Lissouba.
"Esta noite dormiremos na cama de Lissouba", disse um membro da milícia Cobra, de Sassou Nguesso. O paradeiro de Lissouba é desconhecido.
Os avanços ocorrem em meio à intensificação dos combates na capital da ex-colônia francesa e à ampliação das dimensões do conflito, que adquire níveis regionais envolvendo ao menos dois países vizinhos -Angola e o Congo-Kinshasa (ex-Zaire).
Segundo residentes de Brazzaville que chegaram a Kinshasa (capital do ex-Zaire) fugindo da violência, muitas pessoas foram mortas e feridas em ataques de caças de fabricação russa MiG-23 a posições dos homens de Lissouba.
Os combates no Congo iniciaram-se em 5 de junho, quando homens de Lissouba cercaram a residência de Sassou Nguesso às vésperas de eleições presidenciais inicialmente marcadas para julho.
O presidente, que derrotara Nguesso em eleições de 1992, argumentou ser necessário desarmar os homens do ex-líder marxista para que o pleito pudesse se realizar normalmente.
Apesar de diversas tentativas de negociações e do anúncio de várias tréguas, os combates entre as facções continuaram.
Eventualmente, Kinshasa, que é separada de Brazzaville apenas pelo rio Congo, foi atingida por fogo de artilharia vinda da conturbada vizinha.
A milícia que conquistou em maio o poder no ex-Zaire derrubou do poder o ditador Mobutu Sese Seko, tradicional aliado dos EUA durante a Guerra Fria.
O atual presidente do Congo-Kinshasa, o ex-guerrilheiro marxista Laurent-Desiré Kabila, ordenou incursões em Brazzaville para perseguição dos agressores.
Conselheiros militares da ONU se reuniram ontem para estudar o envio de uma força com 5.000 homens para intervir nos conflitos. Segundo autoridades das Nações Unidas, porém, a intervenção só ocorrerá se algumas condições forem atendidas -entre elas, um cessar-fogo e acesso ao aeroporto internacional em Brazzaville.
Angola
Além do ex-Zaire, há denúncias de que facções rivais de Angola estão envolvidas no conflito no Congo. A regionalização da guerra aponta para o reaparecimento de antigas alianças determinadas por afinidades étnicas e ideológicas.
Daniel Abibi, embaixador congolês na ONU, disse que mil homens entraram a partir de Cabinda (encrave angolano vizinho do Congo) em apoio às tropas de Sassou Nguesso.
Angola se viu envolvida durante quase 20 anos em uma guerra civil que opôs a marxista MPLA, no poder, e a pró-EUA Unita, de Jonas Savimbi. Um cessar-fogo foi assinado em 1994, mas os formalmente ex-rivais costumam se enfrentar com frequência.
Além disso, Angola enfrenta também a ação de separatistas em Cabinda. Empresários vindos do encrave disseram que aviões com suprimentos para tropas angolanas no Congo estão chegando à região rica em petróleo.
Segundo diplomata que não quis se identificar, soldados angolanos estão combatendo as forças de Lissouba em Loudima, área próxima à fronteira entre os dois países.
Um analista militar afirmou à agência de notícias "Reuters" que foram estacionados em Cabinda caças MiG-23 e esquadrões de ataque por terra.
Um porta-voz da Presidência angolana negou as acusações. O presidente do país, José Eduardo dos Santos, e seu chefe de Exército, João dos Santos, estão em Cabinda desde o fim-de-semana.

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