São Paulo, quarta-feira, 15 de outubro de 1997
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NAHAS, BOLSA E CASSINOS

No imaginário popular, Bolsa de Valores e cassino são sinônimos, o que é uma pena. Há, claro, um componente de jogatina no mercado de ações. Mas, na essência, a Bolsa é, ou deveria ser, um instrumento de capitalização das empresas.
Pena que personagens como Naji Nahas, um megaespeculador, contribuam para fortalecer aos olhos da maioria da opinião pública essa imagem distorcida das Bolsas.
É por isso que a sua condenação, em primeira instância, a uma pena de 24 anos de prisão pode ter um valor pedagógico. Emite um sinal de que, mesmo em um mercado em que especular faz parte das regras do jogo, há limites nítidos entre a especulação e a simples manipulação.
Cabe aqui ressalvar que esta Folha considera inadequada a pena de prisão para todas as pessoas que não representem ameaça física para a sociedade. No caso de Nahas, uma fortíssima punição pecuniária acompanhada da obrigatoriedade de prestar algum tipo de serviço social seria bem mais adequada.
De todo modo, seria ingênuo supor que a condenação de Nahas signifique o fim das distorções, das manipulações ou da especulação.
Há incontáveis outros manipuladores que fazem apostas do gênero, mas de uma forma ou menos ruidosa ou menos ousada e, por isso mesmo, acabam não sendo nem sequer investigados, quanto mais punidos.
Nahas, ao contrário, tornara-se a personificação do crupiê do cassino, travestido de investidor. É compreensível, portanto, que o foco dos holofotes se volte para ele e deixe um cone de sombra que permite a atuação de outros jogadores.
Desfazer todas as sombras é tarefa virtualmente impossível, mas reduzi-las substancialmente, o que só pode ser feito pela ação de instituições de supervisão mais vigorosas, é não só possível como necessário.

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