São Paulo, quinta-feira, 16 de outubro de 1997
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Imagem é mais importante que substância

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA

em São Paulo
Bill Clinton tinha poucos objetivos nesta viagem. Para o público norte-americano, mostrar uma América do Sul moderna e confiável, de modo a ajudar a convencer os congressistas a aprovarem a "fast track" (via rápida).
Para os governos dos países visitados, demonstrar consideração e reforçar laços de cooperação. Para a opinião pública desses países, passar uma impressão simpática de si mesmo e de seu governo.
No caso do Brasil, foi preciso chegar ao Rio para realizar parte dessas metas. Foi só lá que ele teve a chance de se misturar com pessoas "reais" e participar de cenas de apelo jornalístico visual.
Se esta foi uma visita em que a imagem é mais importante que a substância, como explicar que tantos erros primários de relações públicas tenham sido cometidos?
No Brasil, por exemplo, a Casa Branca recusou diversas chances de "photo-opportunities" que fariam sucesso nas telas de TV dos EUA, como Foz do Iguaçu, Manaus e Golfe Gávea Clube.
Clinton e sua comitiva chegaram a passar um dia inteiro sob o calor de Caracas e foram direto para uma recepção que alguns chamaram de "recepção da catinga" (o Air Force One tem chuveiro para o casal Clinton, mas não para os outros passageiros).
Isso, sem contar os inúmeros escorregões diplomáticos dos representantes dos EUA no Brasil e dos integrantes de suas equipes precursoras que ajudaram a criar o ambiente de má vontade que precedeu sua chegada ao país.
Como explicar tantas falhas? Incompetência, menosprezo ou intencionalidade? A Casa Branca atual é famosa pela confusão e morosidade no processo decisório.
Diversas nomeações de assessores de primeiro escalão terminaram em desastres políticos porque os escolhidos tinham problemas não apurados em seus currículos. Centenas de cargos de segundo escalão estão vagos, nove meses após a segunda posse de Clinton. Cabeçadas entre auxiliares do presidente são ostensivas e embaraçosas.
Portanto, o mais provável é que esses erros todos sejam mais devidos a simples confusão, somada ao fato de que a viagem não é encarada como fundamental, do que a uma articulação deliberada.

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